ERA UMA VEZ.... A PRIMEIRA VEZ.

Djanira Stérni

Até hoje ele se pergunta se teria tido coragem de abordá-la? Com certeza, não. Agradecia aos céus por terem uma amiga em comum que resolveu bancar o cupido.

Sabia que não era o tipo que a atraía. Calado, pensativo, tímido, na verdade ele poderia ser chamado de observador, ou seja, alguém que fica à margem das conversas tentando entender e, assim poder participar, esperando uma integração que não acontecia da forma desejada.

Era considerado, no mínimo, diferente pelos colegas. Alguém que não interessava e que era deixado de lado. Ninguém prestava atenção em Ulisses, ele não merecia um segundo olhar ou até mesmo ser levado em consideração.

Azar das pessoas que não se dignavam a conhecer a sua educação, sensibilidade e boa vontade em relação ao próximo.

Pode-se dizer que ele tinha conteúdo! Não era falante, mas era pensante, não tinha uma conversa que interessasse aos colegas, mas tinha interesse em assuntos relevantes que envolviam o bem comum, política e solidariedade entre os povos. Enfim, ele era alguém com um grande potencial esperando para ser descoberto, e, para isso era necessário que uma pessoa especial, com um olhar abrangente, perspicácia e gostasse de desafios, pois ele era um mistério a ser desvendado, como um tesouro escondido ou uma pedra preciosa a ser lapidada, se dignasse a olhar uma segunda vez para ele.

Quando a conheceu sentiu que ela era a mulher da sua vida, mas o que fazer? Ela era o seu oposto. Falante, alegre, popular e admirada por todos. Ulisses, além de tudo, tinha um segredo que só revelaria para a mulher que conseguisse invadir seu coração, fazendo com que ele confiasse nela a ponto de confessar particularidades que só diriam respeito aos dois.

Aconteceu. Começou o namoro. A princípio ele sabia que era apenas por curiosidade que ela o acompanhava.

Com o passar do tempo tornou-se algo mais sério e ele começou a sentir que ela nutria por ele um sentimento terno e verdadeiro.

Enfim, ele pensou, a hora da verdade havia chegado. Principalmente porque não estava agüentando mais as tentativas dela para levá-lo para a cama.

-Eu sou virgem! Disse-lhe, certo dia em que sentiu que o momento havia chegado.

-Não acredito! Ela disse com espanto. Não é possível!

-É verdade.

-Mas, como pode ser isso? Você tem 25 anos.

-Preferi esperar pela mulher que eu escolhesse. Não acredito em sexo sem um envolvimento mais profundo.

-E então? Agora nós estamos juntos. Está na hora de conhecer os prazeres que a vida sexual nos oferece.

-Não! Não mesmo. Só depois de casados.

-Isto nós vamos ver! Ela disse.

E assim, para Ulisses, começou um doce tormento. Que mulher provocante! Como era difícil resistir! A cada encontro se sentia mais fraco.

Foi um longo caminho até o altar. Na verdade, nem tão longo assim, mas para alguém na situação dele, pareciam ter passado séculos ao invés de alguns meses.

Ele resistiu e nem sabe bem por que. Talvez por teimosia, talvez para castigá-la por ter mais experiência que ele ou talvez por que assim, pressionado pelo desejo de conhecer os doces prazeres sexuais, torturado pelo decote tentador da noiva, pelas coxas que ela teimava em mostrar, pelas mãos dela que pareciam multiplicar-se quando começava a tocá-lo com luxúria, ele venceria mais rapidamente os obstáculos financeiros e burocráticos até o casamento.

O dia chegou! Finalmente! Ele não lembra direito da festa, pois a sensação de medo e excitação dominava suas emoções.

Ah! O momento tão esperado e ao mesmo tempo tão temido.

Ele não sabia o que era aquele tremor nas pernas, aquele frio na barriga e o suor nas mãos. Seria medo do desconhecido? Será que as mulheres sentiam todas essas sensações? O que é, o que tu espera que seja e o que foi? Que lembranças teremos desta tal noite de núpcias? Na melhor das hipóteses deve ser uma noite de sonho, fantasias e desejos realizados e na pior... Não, é melhor não pensar em coisas que poderiam fazê-lo falhar... Que horror! Bateu três vezes na madeira. Não podia dar esse vexame! Precisava controlar o terror que o invadia como se seu sangue congelasse nas veias, tornando-o uma estátua imóvel e ansiosa.

Com um esforço sobre-humano lutou contra essas idéias negativas que teimavam em invadir sua mente.

Ele estava vivendo, no mínimo, uma situação inusitada. Um inverso de papéis, algo raro de acontecer, um noivo virgem esperando por uma noite de núpcias que o transformaria em alguém que deixaria de ser um mero sonhador confrontando-se com a realidade, que, conforme ele esperava, superasse a ficção transformando-se numa experiência única e prazerosa para ambos.

Nesse momento assumiria sua condição de macho homem, inserido totalmente no contexto, conheceria o jardim de delícias que sua esposa escondia nos seus recantos mais profundos, beberia o mel de sua flor mais rara, deslizaria suas mãos pelo corpo perfumado, beijaria seus lábios tentadores e sugaria seus seios antes dos filhos que teriam.

Agora sim! Um calor intenso espalhou-se pelo seu corpo, sentiu-se rígido, pronto para o que viesse, a emoção vencendo o medo, o coração batendo forte e a mente dominada pelo desejo da carne.

Ela estava esperando por ele, os olhos ávidos e o corpo febril. Atirou-se nos seus braços beijando-o com paixão, desesperada, afoita e impaciente.

-Seja gentil comigo! Ele pediu.

Ela não atendeu seu pedido, abusou dele descaradamente e ele adorou cada momento.

Djanira Stérni
Enviado por Djanira Stérni em 23/11/2010
Código do texto: T2633006