O GATO

- Alô! Quem está falando?

- É o Quinho.

- Ei, Pai! Que saudade do senhor!

- Eu também estou morto de saudade! Como vocês estão?

- A Ana e eu estamos bem, graças a Deus. O que o senhor tem feito de bom na nossa querida Bahia?

- Nada. Hoje vim aqui, na casa de sua irmã, acabar com um gato em cima do telhado, que se enfiou no meio da fiação e está causando o maior transtorno.

- Não, pai! Não faça isso, por favor!

- Mas é preciso, Nadja.

- Está bom. Não vou discutir com o senhor. A Sueli está aí?

- Está na cozinha fazendo almoço.

- Gostaria de falar um pouquinho com ela.

- Alô, Nadja! Tudo bem? Está frio aí em Vitória?

- Demais! Nunca fez tanto frio como este ano. Sueli, não deixe papai trepar no telhado por causa de um gato. Esqueceu-se daquela vez que ele despencou de lá, quando estava mexendo na antena de TV?

- Claro que não! A mamãe ainda era viva. E o "velho" não morreu porque não era a sua hora.

- Pois é, mana. Não o deixe fazer essa arte de novo. Agora que ele está aposentado, curtindo a vida... E além do mais, quem mata um gato tem sete anos de azar. Olhe, a Ana vai falar com você. Um beijão. Fique com Deus.

- Sueli, não deixe papai fazer uma atrocidade dessas. Não se deve matar os animais. Ainda mais um gato que é tão bonzinho, meigo e amigo da gente.

- É uma necessidade, maninha. Ontem à noite, eu estava sozinha com as crianças aqui em casa e escutamos um estrondo. Quase morremos de susto. Aí, liguei para o papai e o chamei para dar fim nessa agonia.

- Mas é tão triste acabar com gato!

- Mamãe, quem matou o gatinho?

- Ninguém, meu filho, mas vai matar.

- Não, não! Eu não quero que matem o bichinho!

- Está escutando, Sueli? É o Rafinha que está chorando. Fale com o papai. Quem sabe ele se toca e tira essa idéia maluca da cabeça.

- Ele não pode tirar. É hoje ou nunca. Se ele não acabar com o gato, ele acabará conosco. Há 19 anos que ele está aqui no telhado. Só que eu moro nessa casa já tem seis. Você não acha que está passando da hora de pormos um ponto final nisso?

- Mas, Sueli, pense bem. Ele já deu muito prazer a vocês.

- E como deu! Há seis anos que ele nos dá banhos quentinhos todos os dias e sem despesa nenhuma.