O Vício Maldito

Os olhos de dona Ângela eram de pura tristeza, olhos lacrimosos ao encarar a fita sem remetente nas mãos. O coração de mãe instintivamente sentia o que ali jazia. Há três meses que o único filho desaparecera, voltava em raras ocasiões apenas para saquear alguns poucos objetos da casa. Isto apenas piorava, pois dia após dia o jovem lutava para sustentar o seu terrível vício, com o tempo o filho se tornara arredio, impaciente e agressivo, diferente do jovem forte e alegre, agora reduzido à pele e osso. Por vezes ela se questionou, onde estaria o erro, como um garoto de classe média, filho de um médico e uma professora divorciados, fora se meter com as drogas? Como um jovem universitário prestes e a se graduar em filosofia deixou-se seduzir pelo caminho errado.

Dona Ângela ficou noites em claro á espera do filho, nenhuma notícia, nenhuma ligação, a espera do pior. Até que a maldita fita chegou a suas mãos, relutante, não queria revelar o conteúdo da fita, mas sua curiosidade deveria saciar o desejo pela busca da verdade.

Sentou a frente da TV, solitária. Sentiu a agonia da espera até as primeiras imagens tremulas surgirem. Uma figura negra encarava a câmera, uma face encoberta por uma touca, deixando apenas os olhos negros visíveis, olhos frios sem alma, e uma voz rouca disse;

- Oi dona, hoje nois vai mostrar o que acontece com quem deve os mano...seu filho esse noía vagaba, não tinha dinheiro e aqui se paga com a vida. Seu último pedido foi que a dona visse o seu fim, esse é o nosso segredinho...

Em poucos segundos a câmera focalizou o jovem, que estava acorrentado a uma cadeira de metal. Sujo e visivelmente cansado, exibia no corpo magro milhares de hematomas e cortes. A boca estava costurada e vertia sangue, e na face a expressão de puro terror a morte iminente.

Então a tortura teve início. Homens encapuzados o surraram até a exaustão, o sangue jorrava de suas feridas, devido aos golpes o rosto deformou-se e quando ele estava à beira da inconsciência eles cessavam, apenas para recomeçar quando ele desperta-se.

As imagens fixaram nas retinas de dona Ângela, cenas de um filme de horror, um pesadelo do qual ela não podia despertar. O filho que ela amou estava morrendo diante de seus olhos. Nada poderia descrever as cenas que viriam, torturas infindáveis que o faziam urrar de dor. A mesma dor que a mãe suportava em silêncio.

Quando tudo se aproximava do fim, os homens o cortarão a golpes de machado, durante os violentos golpes o jovem gritava a plenos pulmões pedindo socorro a sua mãe, que nada podia fazer diante da tela. Ela podia apenas ouvir o som dos ossos cedendo diante de tamanha violência, quando tudo cessou o filho estava morto. Ao final os restos do filho foram jogados aos porcos que roeram a carne e os ossos.

Dona Ângela permanecia estática diante da tela negra, lágrimas escorriam entre suas rugas cansadas. Testemunhou a morte de seu único filho. E a noite entre o silêncio da rua doze, ouviu-se um tiro seco de um calibre trinta e oito. Um bilhete jazia junto á cama, que dizia;

Ao meu único e amado filho, morro em silêncio para que todos saibam a dor que senti e não pude suportar. Peço perdão, e sei que de alguma forma misteriosa o mundo saberá de nossa história e cobrará a sua sentença.

Sua mãe Ângela.

Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 22/11/2010
Código do texto: T2630997
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