O menino de rua e a doutora

01.09. 2010

Aconteceu em uma tarde ensolarada, em uma grande avenida de São Paulo, onde diariamente percorrem milhões de pessoas , em forma de procissão, tal é a extensão volumosa de pedestres.

Em meio a essa multidão, caminhava a doutora em passos largos, nas mãos, carregava um amontoado de documentos, emaranhados de pensamentos aguçava-lhe a mente, e tudo se misturava naquela multidão, em meio ao calor febril daquela tarde. Foi quando algo lhe chamou atenção, alguém parou em sua frente. Ela parou , olhou um pouco aturdida, receosa de assalto, e viu que se tratava de um menino de rua, antes de compreender de que se tratava, ouviu uma voz, quase que um sussurro, tal era a sua fraqueza.

- doutora, um trocadinho, por favor, - é só para comprar um pastel, - por favor doutora, -ainda não comi nada hoje.

Assustada, a doutora acorda para a realidade, seus prazos processuais, audiências, uma agenda totalmente extensa, não lhe dava tempo para pensar nessa brutal realidade, que seus olhos, agora se deparavam, um flagelo humano , a lhe mendigar por um pastel , - mas será que apenas um pastel poderia saciar a fome de alguém!

O fato é que esse episódio deixou-a extasiada , tirou uma nota que se encontrava fora da carteira, pois não se atreveria a abrir a bolsa ali, e deu-a ao menino.

O menino apenas gesticulou - Deus abençoe a senhora doutora.

Sem olhar para os lados, incomodada com aquela situação, talvez, um pouco envergonhada de não fazer mais nada para aquele esqueleto ambulante, continuou a andar, agora com pequenos passos, tal era seu estado de animo constrangedor.

Chegou ao Forum, em cima do horário.

- doutora , pode entrar, a audiência está sendo instalada, o seu cliente já chegou, faltam a senhora e o requerente.

Era uma audiência de Conciliação, tratava-se de uma Ação de Alimentos, onde seu cliente, o requerido a contratara para Contestar a ação, pois ele se negava a pagar pensão para seu filho, o filho que ele sequer conhecia, apenas tinha o registrado, pois sabia ser seu

A doutora entrou, orgulhosa, à sala de audiência, tinha plena consciência de seu destacado profissionalismo, contestação muitíssimo bem elaborada, não deixava margem, sequer para uma réplica, tal era o requinte e a riquezas de seu brilhante trabalho.

A audiência atrasa por cinco minutos, o juiz justifica o pedido feito pelo advogado do requerente, - Excelência , ele está chegando, saiu apenas para tomar um lanche, pois não conseguia parar em pé.

Nisso entra à sala de audiência, o requerente, garoto de apenas nove anos de idade, acompanhado de sua mãe, ele fora comer um lanche, as mãozinhas tremulas, tentava limpar a boca ainda suja pelo pastel, que acabara de comer.

A doutora quase cai da cadeira, sentindo grande nauseas, dirige um olhar para o seu cliente, e esse chega a estremecer.

Ela levanta da cadeira e diz:

Excelência, eu não posso fazer esta audiência, pois sinto-me sem forças.

O juiz munido de sabedoria, dá a palavra ao pai da criança, esse que nunca havia visto seu filho, pois assim, que soube da gravidez da mãe a abandonou, olhou para aquela moça, que um dia fora tão importante para ele, e sequer a reconheceu, tal o estado em que se encontrava, olhou para seu filho, um farrapo humano, porém conservava os traços finos do pai, indiscutivelmente , aquele menino era seu filho.

Cabisbaixo ele disse: - Excelência, eu quero assumir meu filho e indenizar sua mãe, pelos estragos que fiz em sua vida.

Lavrado o termo, as partes saem , a doutora se recusa a olhar dos lados, apenas beija o garoto diz-lhe algo ao ouvido e some em meio a multidão.

zilvaz
Enviado por zilvaz em 22/11/2010
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