O sabio que não sabia
Existia um sábio chinês chamado Sam Kashi. Muitas pessoas atravessavam o país inteiro para chegar ao seu templo e lhe fazer qualquer pergunta, e o sábio responderia.
Numa de suas viagens, Sam Kashi, fez uma visita ao Brasil, buscando mais sabedoria, quer dizer, buscando só aperfeiçoamento, pois ele acreditava que sabia de tudo. Em todo o solo brasileiro, nada o surpreende, pois o sábio de tudo sabia. Das matas brasileiras, ele era capaz de ensinar os índios, em Brasília ensinava a governar, tinha até solução para o Tietê.
Numa certa noite, numa de suas andanças pelas cidades do interior paulista, se depara com uma cena. No canto da calçada, no escuro, jogado a miséria da sociedade, no submundo da humanidade, havia um homem, morador de rua, sem nada, sem teto com roupas rasgadas e sujas, rosto sujo e machucado, juntamente com seu único companheiro, um cachorro magro e machucado. Aquele homem estava repartindo uma marmita de comida com seu cachorro, uma marmita fria em um embrulho de papel alumínio. O sábio olhou espantado aquela cena, “Como um homem quase morto de fome, vivendo na miséria da sociedade, num país de terceiro mundo, é capaz de repartir sua única refeição dia com um animal?”. O sábio com duvida? Ele que a todos respondia, tinha todas as respostas, mas agora ele está com dúvida. Para ele um cachorro é só um animal, em seu país o cachorro muitas vezes é servido como alimento, mas aqui é diferente, um mendigo repartir sua refeição com um animal.
No outro dia o sábio passa por ali novamente, e o homem estava alimentando o cachorro. O sábio intrigado com o que estava acontecendo foi perguntar:
― Olá homem, se você não tem como se alimentar, porque ainda insiste em alimentar um cão?
― Olá “seu” chinês! Quer saber o por que eu alimento meu cão? Porque, se eu estou aqui é que Deus me mandou, se o cão está comigo, Deus lhe mandou ficar aqui, se eu tenho fome, ele também tem. Mas eu sei falar eu consigo pedir, e os outros me entendem. Já ele, pobre coitado não fala, todos acham bonitinho mas ninguém lembra de que ele também tem fome. E mais uma coisa em comum agente tem, eu sinto um amor por ele e sei que ele também sente igual. Então “seu” chinês, nessa vida tem que ser humilde, não só em palavras, mas também nas atitudes.
Naquele momento o sábio Sam Kashi, ficou sem palavras, sem reação, calado voltou a andar, sem olhar para traz com a certeza que ainda tinha muito a aprender.