O MEDO
De repente o mundo parou e o sol morreu. É o que eu sempre desejei ver. Tudo se tornou um breu. Pessoas abobalhadas. Olhando umas para as outras. Parece que tudo é a primeira vez. Um falar e ao mesmo tempo um sentir ou muito medo.
Do amor. Da solidão. Do desprezo ou quem sabe da falta de tudo. O terror apodera-se de todos e gritar é a solução. Quem vai escutar? O movimento que era constante das ondas do mar acabou. Os rios e os córregos não jorram mais. O ruído cessou. Agora é só silencio.
Ficar deitado, sentado ou em pé, não faz sentido. E correr? Também é um perigo. O meu, o nosso, o vosso coração ficou parado, então como viver? Resta o amor. Aquele que nunca aconteceu e agora jamais será encontrado.
Nada se compara com a solidão. Então o pão amargo de origem plebéia, mistura-se com o sucesso da elite européia. Resta então a lágrima que, teima em sair dos olhos, escorrendo no rosto do inimigo encontrado.
Do mesmo modo que a forma de um olhar bem perto, traz a famosa tristeza. E muitos não conseguem assumir. O lixo humano converge com o luxo das calçadas. Trazendo a tona uma humanidade branca que consome a negra, carente de medo. Fico ao mesmo tempo com medo do outro lado que eu detesto, trazendo o ódio que eu não gosto de carregar. Aparece então uma morte carregada do aborto premeditado.
Dentro da casa, onde impera o medo, existem pessoas que não possuem teto. As mães que apertam seus filhos nos seios. Ao mesmo tempo em que uma chinela esquecida no pé de alguém, se arrasta. Parece então uma sandália que foi a muito usada. É nesta hora que o homem casado aparece. Aquele que salta fora, conseguindo que o solteiro entre neste vaivém. É tudo uma alegria somada ao sucesso do fracasso do beijo que alimenta a boca e ao mesmo tempo aquece.
Porque não falar da Igreja que é freqüentada por todos. Ao mesmo tempo em que orientam a não transmitir fofocas. Todos comentam e inventam. Tudo se resume no medo, na vida em que vivemos a interpretar um surdo no seu ato de representar o uso da caneta e do papel.
Surge então a mão do travesti ornamentada de bijuterias, contrastando com a vestimenta, da noite do jantar com seu amor que só lhe faz torturar. É o medo.
TARTAY/NOVEMBRO-2010