Meu primeiro amor

Trim! Tocava sem parar o despertador ao lado da cama de Laura. Eram seis horas da manhã. Sonolenta levanta da cama e enfia os pés nos chinelos. Começava a corrida contra o tempo. A água fria do chuveiro ajudava a afugentar algum vestígio do sono. O uniforme já previamente passado a ferro esperava na cadeira.

Os chinelos davam lugar a um lindo par de sapatos pretos e meias brancas. No pequeno espelho da penteadeira o rosto da mocinha mostrava seus lindos olhos verdes. O pente escorregava no cabelo. Um pouco de perfume e pronto, lá ia ela descendo as escadas correndo em direção a cozinha para tomar café. Os livros na mão, a xícara na outra e uma mochila pendurada nos ombros.

- Pra que a pressa? Perguntava a mãe. A resposta era um sorriso no rosto.

Laura consulta o relógio e se despede da mãe com um beijo no rosto. Abre a porta da sala e desce de dois em dois os degraus que levam à calçada. De longe avista a condução que a levará ao portão da escola.

O coração batendo rápido, as mãos geladas mesmo que o sol, já alto esquentasse as pessoas. Ela chega com quinze minutos de antecedência e junto com as demais alunas cochicham alguma coisa. Elas riem e se divertem. São apenas meninas desabrochando para a adolescência.

- Lá vem ele! Disse uma delas. As demais respiram fundo e perdem a fala.

Cayo, o professor, chega à escola pontualmente às sete horas. Um homem alto, cabelos escuros, cerca de vinte e nove anos. Os braços fortes seguram uns cinco ou seis livros. Ele desce do carro, tranca a porta e passa pelo portão de grade sob os olhares das alunas.

- Bom dia professor! Dizem todas juntas como se fosse um coro.

- Bom dia meninas! Responde achando graça da situação que se repetia a cada manhã.

Elas acompanham-no com olhares e cochichos. O olhar de Laura encontra o de Luis. Ele vira de costas pra ela. Um colega cutuca o menino e os dois riem baixinho. Depois um dos dois fala:

- Meninas! Como são bobas!

O sinal avisa que é hora de formar e entrar para a sala de aula. As meninas lotam os primeiros lugares da frente. O professor entra no recinto, ouvem-se risinhos. Ele pede silêncio para fazer a chamada. O som de sua voz parece musica aos ouvidos.

Num dos cantos da sala está um menino de cabelos pretos e óculos, tão tímido que passava despercebido pelos demais. Ele para de escrever e responde a chamada:

- Presente professor!

Como se fosse mágica, a menina loura de olhos verdes vira-se para trás e num jeitinho ainda mais tímido sorri pra ele. Depois volta a olhar para frente, acomodando-se na cadeira. O coração de Luis dispara, não pode nem acreditar no que viu. E de cabeça baixa continua a escrever um poema.

- Será que alguém notou? Perguntou a menina.

- Não. Responde a amiga.

Luis termina o que estava escrevendo e assina seu nome. Ele dobra carinhosamente a folha de papel. Depois levanta e vai à direção do quadro como se fosse jogar algo na lixeira. Passa pela mesa de Laura e deixa o bilhete cair. A menina esconde o papel entre os dedos das mãos como se fosse algo precioso. Os olhos brilham quando começa a ler as primeiras linhas: Ao meu primeiro amor... Laura.”