UMA FOTO...SEM QUERER e UM AMIGO TRAPALHÃO

Andava eu despreocupadamente, divagando sobre o que via de bonito – e isso o Rio tem de sobra – quando encontrei um velho amigo muito engraçado, não porque faça palhaçadas, mas por ser tão trapalhão, tão atrapalhado, que chega a ser hilário. Seu nome, Joaquim. Não é português, mas carioca da gema, do Cachambi, zona norte do Rio.

Joaquim é o tipo do cara que, quando começa a contar seus casos, faz-nos esquecer que o tempo existe. Viajamos com ele em suas estórias, das quais ele também dá muitas risadas.

Joaquim convidou-me para ver uma foto, que lhe rendeu um prêmio e virou outdoor em uma rua próxima. Antes, porém, entramos em um bar, para um cafezinho, que fiz questão de pagar, afinal, lembrei-me que ele é muito pão-duro. Sentamos em uma das mesas típicas de um botequim de esquina. Joaquim tem um cacoete: Gosta de sentar-se com as pernas esticadas, e fica cruzando e descruzando lá junto aos pés, à medida que se empolga em suas estórias. A certa altura do papo, numa dessas cruzadas ou descruzadas, ele prendeu o tênis na toalha da mesa, arrastando tudo que havia em cima: Xícaras com café, pires, colherinhas, açucareiro, guardanapos e uns biscoitinhos, que foram parar lá na calçada. Num ato de puro reflexo, consegui me afastar antes que o café me molhasse, mas ele... Coitado, além de molhado e manchado de café, ainda teve que ouvir os resmungos do portuga, que tentava esconder sua ira.

Saimos rua abaixo, para ver a tal foto. Meu amigo Joaquim contava suas estórias, enquanto apreciávamos as belezas cativantes que só o Rio tem. Contou-me que havia perdido seus “clientes de fotografia” - ele fazia fotos de casamentos. Nos casamentos do bairro, ele estava sempre lá, com sua poderosa máquina. Perguntei-lhe a razão da perda de “clientes”, afinal, esses eventos continuam a existir. Disse-me não entender o por quê, mas as reclamações de tais clientes eram bem parecidas. Uns diziam que haviam saído nas fotos sem suas cabeças, outros sem os pés e um deles disse que onde deveria estar sua noiva, havia uma carrocinha de pipocas. Isso eu tenho que explicar. O problema era que Joaquim, de tanto cruzar as pernas quando sentado, já começara a fazê-lo também em pé. A cada cruzada, um giro... e a câmera... vocês podem imaginar. Mas, como diz o ditado popular, “não há mal que não traga um bem”, meu amigo estava muito feliz naquele dia. Levou-me à rua onde havia um outdoor e nele um belo poster, que mostrava - da metade para cima - prédios do Rio, encimados por um lindo céu azul tipicamente tropical e uma nuvem tão branca, qual um floco de algodão, em formato arredondado, que parecia avançar em direção àqueles prédios gigantescos, que apontavam para aquele céu azul. Fiquei maravilhado! Lembrei-me de uma foto da Márcia Foletto, que eu vira em um jornal. Joaquim, ingênuo e muito orgulhoso de si, sorriu e disse-me: Tá vendo? Fui eu que fotografei, sem querer... Na porta de uma igreja... E os noivos nem gostaram...!

Ineifran Varão
Enviado por Ineifran Varão em 12/11/2010
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