Um último domingo de paz
O dia surgia lentamente, meio que sem vontade. Na janela, a admirar, lá estava um idoso aposentado que, às cinco horas da manhã, havia levantado aflitamente do seu leito confortável, com a impressão de uma calma melancolicamente monótona que estaria por vir.
Lembrava-se do tempo em que conseguia ver o horizonte azul do mar da varanda de sua casa, que o preenchera, naquele instante, de uma alegria que não voltaria jamais, pois, na sua frente, havia apenas um tom de cinza morto e inerte dos prédios blindados, com o qual se deparou ao abrir os olhos, suspirando como se o encanto de suas lembranças fosse quebrado.
Queria se livrar dos prédios, barreiras concretas que sufocavam sua memória. Resolveu, então, caminhar pelo calçadão da praia mais próxima, que ficava a menos de dois quarteirões de sua casa.
Chegando à praia, despejou uma lágrima, emocionado com o dia ensolarado que se abrira diante dos seus olhos, agora ainda mais próximos do mar, que refletia uma luz como se iluminasse um caminho em sua direção.
Passou o dia na praia. Estava na companhia do Sol e sentia-se levado pelo caminho infinito de luz às ondas que, vez ou outra, batiam na areia como o palpitar do seu coração.
Em silêncio, despedia-se do Sol, que parecia não querer ir embora, pois lentamente descia do seu posto magistral no céu.
Já era noite quando o idoso voltava para casa, com enorme satisfação, o que não sentira desde muito tempo, pois desde muito tempo fora mal humorado e raramente saía de casa, com seus sentimentos trancados no peito e raramente compartilhados.
Chegando em casa, tomou um banho, imaginando-se na imensidão do mar. Dormiu num sono profundo, tão profundo que rendeu-lhe sonhos.
Dormiu em paz, enfim. Não acordou, mas voltaria ao mar como sempre desejou. Sua vontade foi então respeitada, mesmo em sua ausência.