ARRUFO DE PUTA NOVA
- Dona Maroca do céu! A senhora já soube da novidade? Zé Borges trouxe uma ruma de rapariga para a pensão de Maria Gorda. A Kombi veio cheinha. Diz que é mulher da vida dos confins da Paraíba.
- É minha filha. As coisas do jeito que estão só se pode esperar disso mesmo. É sem-vergonhice para todo lado.
- Todo mundo já está falando. É a grande novidade.
- Vez por outra aparece alguém na pensão e leva uma dessas infelizes para a capital ou para outra cidade qualquer. Aí o número de mulheres vai diminuindo e o salafrário do Zé Borges é o encarregado de abastecer aquele antro de perdição.
Você vai ver logo mais à noite, essa macharia safada vai toda para lá conferir a mercadoria.
- Diz que Maria Gorda faz leilão das mais bonitinhas, das mais novinhas, das que ainda têm todos os dentes, das que têm olhos claros, das que têm cabelos louros, das negrinhas...
- Isso é pouca vergonha antiga. O finado meu marido era um dos que ia lá toda vez. Findou Marivaldo pegando doença do mundo.
- E a senhora pegou também?
- Deusulivre! Nessa época eu já não queria mais nada com Marivaldo. Ele já estava dormindo no quarto dos fundos.
- Foi a senhora que tocou ele pra fora de casa, foi?
- De certa forma foi porque toda vez que ele chegava bêbado, eu não deixava ele dormir no quarto. Até que um dia ele pediu para ajeitar o quarto dos fundos que ele ia mudar para lá.
Aí, eu peguei na palavra, mandei Nuca de Mané Gago caiar as paredes e consertar os buracos no piso de cimento, botei colchete para duas redes, comprei colchão de palha novo porque o velho estava com um buraco deste tamanho no meio por conta das mijadas que Neném tinha dado nele, botei cadeira de balanço, mosquiteiro e uma mesinha com quartinha de água, vela e caixa de fósforos para quando faltasse luz, botei penico debaixo da cama e quando Marivaldo apareceu na minha frente entreguei a chave do quarto, amarrada numa fita vermelha de S. Jorge que era o santo da devoção dele.
Desse dia em diante ele só entrava pelo oitão e em casa, só na cozinha, para comer.
- Oxe! Dona Maroca. Como é que a senhora teve coragem de dispensar um homem bonito como seu Marivaldo? A senhora não ficou com saudade do chamego, não?
- Você me respeite! Eu sou lá mulher de chamego?
- Mas não era seu marido? Que é que tem isso demais?
- Não minha filha. Uma coisa é servir ao homem da gente, outra coisa é xumbregar. E eu sou mulher de vergonha na cara.
Mariazinha chegou correndo.
- Madrinha, tem mais de cem homens na porta da pensão de Maria Gorda, eu acho que aconteceu alguma coisa...
- Nada menina, isso é arrufo de puta nova!