As fases de Luana

Luana era uma feminista convicta. Queria sempre provar a todos o quanto era independente e forte. Fazia a feira sozinha, carregava sacolas, levantava pesos que muitas mulheres se recusavam a carregar. Trabalhava e estudava. Tinha seu carro e morava sozinha. Sempre se recusava a receber ajuda dos outros. Preparava sua comida, ia ao cinema, bebia, praticava esportes, fazia sexo e gostava. Pagava suas contas e muitas vezes a dos homens que arrumava, além de ajudar seus pais financeiramente. Segundo uma pesquisadora mineira, poderia ser qualificada como lésbica. Mas embora ela até se sentisse atraída por mulheres, ela gostava mesmo era de homem. Uma mulher não poderia lhe proporcionar a mesma sensação de completude. E ela realmente gostava deles, vivia cercada. Adorava ser paparicada. E, geralmente, retribuia com amizade, sorrisos e elogios. Contava histórias, cantava, falava sobre sexo e não se importava com as cantadas que recebia. Mas apesar de seu ar acolhedor, era arredia. Ai, de quem invadisse seu espaço!!!!!!!! Não tolerava que um amigo mais ciumento, quisesse lhe monopolizar, logo tratava de dizer: - Sou de amiga de todos e escolho ao que e quem me entregar. Transitava livremente entre o superego e a Id e deixava todos completamente atônitos com a sua mudança de comportamento. Mas os anos passaram e o brilho aos poucos diminuiu. Alguns relacionamentos mal-sucedidos e lá estava ela cheia de traumas e imersa na esquizofrenia do mundo pós-moderno, que a bombardeava com informações e possibilidades e lhe deixava completamente perdida. Cansou de querer ser completamente independente. E resolveu encontrar um homem à moda antiga. Encontrou um que seria capaz de lhe estender um tapete vermelho, desde que ela não saísse de casa. Seu espírito livre não conseguiu viver com tanta possessividade, bateu asas e voou. Encontrou outro que lhe permitiria fazer tudo o que ela quisesse desde que fosse o que ele queria. O espaço era um pouco maior, mas o dele era maior ainda. Então, ela pediu licença e resolveu desbravar novas terras. Mas as novas terras eram um pouco áridas. Cansada dos michês, descartava os que não faziam questão de pagar as próprias contas. Irritada com os “cafetões”, descartava os que achavam que o fato de eles serem um homem na vida dela bastaria e por isso, poderiam exigir inúmeros favorezinhos. Desgostosa com os “maridos infiéis”, às vezes preferia, ser realmente uma puta, pois a frieza após o ato fazia-lhe sentir horrível: - ao menos elas cobravam. Não havia solução para ela. Uma relação equilibrada passava longe de sua realidade, diante de sexo fácil e abundante, de mulheres dispostas fazer tudo para casar e constituir família, ou apenas para tê-los por algum momento, ela às vezes lia Romances antigos e parecia sentir falta da época em que os casamentos eram arranjados, os homens os provedores e as mulheres mães de família. Abandonou o feminismo, continuou a trabalhar, mas cansada da vida de solteira, casou com um homem 30 anos mais velho e rico e arrumou um amante.

LUCILA GRACINDA
Enviado por LUCILA GRACINDA em 09/11/2010
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