DUM SORRISO ROSA- PASTEL
A peça estava no intervalo e ela se dirigiu ao toalete ali aproveitando para retocar a maquiagem. Ao lado eu apenas a observava com admiração.
Duma simpatia ímpar que a espelhava à meia luz daquele aposento, repassou o batom rosa-bebê, e o aproveitou para colorir as bochechas simbolicamente marcadas pelo tempo.
Abriu uma elegante carteira preta de pontos brilhantes, retirou um antigo pente de marfim e realinhou seus finos cabelos tintos dum leve acajú.
Aproveitou para borrifar no lenço do colo uma fina nuvem dum Chanel número cinco.
-Vamos mãe, corre que já vai recomeçar a peça.
-Espera um pouquinho filha, tenho que estar bonita neste meu aniversário, faz oitenta anos que o tempo corre de mim , e hoje quero comemorá-lo sem pressa como se fosse todo meu...
Olhou para mim e de lá saiu me emanando um doce sorriso rosa- pastel, aquele que me certificou toda a sua felicidade de vida.
Ali, na noite daquele teatro, ela brilhantemente me encenava o seu ato de número oitenta, duma vida que lhe passava como a rapidez dum relâmpago, mas com a suavidade duma brisa.
(Verídico)