BRINDANDO A SUA DOR.

A tarde avançava lenta e brejeira, na expectativa de novo anoitecer,podia (re)ver nos espelhos da emoldurada alma as imagens do que viveu/morreu.

Sabia ser inútil( mas talvez necessário) chorar de saudades dos dias já distantes que se perderam para sempre,ou talvez tenham se guardado para sempre em sua memória.

O tempo que não perdoa, corre/vagueia/vagareia/devagarinho/voa,

torna incadescente mágoa em fria recordação,que ainda dói e distribui pequenos/enormes cacos da esfarelada alma pela amplidão da madrugada do viver/sobreviver a um grande amor.

Por vezes se perguntava se valia á pena restar a vida após findar o amor. Não havia alternativa, muitas vidas vieram/foram e havia ficado ali no mesmo lugar.

Molhava os pés na transparente e gélida água que as ondas derramavam sobre seus pés e sob seus olhos mareados, se perdia ao tentar se encontrar entre as estrelas e pirilampos que vageavam e

vagavam a esmo na escuridão.

Há muito não tinha rumo/prumo/leito/eito/jeito.

Há muito se deixava esvair por entre as gotas de chuva, como quem sabe buscando voltar a terra/ao céu ou ao rio/mar, onde renasceria

ou se desfaria para sempre.

Sempre.

Nunca.

Talvez...

... Assim ia se deixando levar/ficar, se desfazendo para se refazer e

tentando sobreviver a uma certeza: deixara a vida estacionada em

algum local, tal qual barco preso/solto á beira de um cais, querendo se deixar ficar e se desvencilhando das amarras para alcançar o desconhecido.

E as luzes pouco a pouco se acendiam, avisando a alma em extâse

de dor: chegou outra noite, vai segue em frente, a vida restou.

Preenche a taça, se serve do melhor vinho e vai seguindo...

... Brindando a sua dor.

Márcia Barcelos.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 05/11/2010
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