BRINDANDO A SUA DOR.
A tarde avançava lenta e brejeira, na expectativa de novo anoitecer,podia (re)ver nos espelhos da emoldurada alma as imagens do que viveu/morreu.
Sabia ser inútil( mas talvez necessário) chorar de saudades dos dias já distantes que se perderam para sempre,ou talvez tenham se guardado para sempre em sua memória.
O tempo que não perdoa, corre/vagueia/vagareia/devagarinho/voa,
torna incadescente mágoa em fria recordação,que ainda dói e distribui pequenos/enormes cacos da esfarelada alma pela amplidão da madrugada do viver/sobreviver a um grande amor.
Por vezes se perguntava se valia á pena restar a vida após findar o amor. Não havia alternativa, muitas vidas vieram/foram e havia ficado ali no mesmo lugar.
Molhava os pés na transparente e gélida água que as ondas derramavam sobre seus pés e sob seus olhos mareados, se perdia ao tentar se encontrar entre as estrelas e pirilampos que vageavam e
vagavam a esmo na escuridão.
Há muito não tinha rumo/prumo/leito/eito/jeito.
Há muito se deixava esvair por entre as gotas de chuva, como quem sabe buscando voltar a terra/ao céu ou ao rio/mar, onde renasceria
ou se desfaria para sempre.
Sempre.
Nunca.
Talvez...
... Assim ia se deixando levar/ficar, se desfazendo para se refazer e
tentando sobreviver a uma certeza: deixara a vida estacionada em
algum local, tal qual barco preso/solto á beira de um cais, querendo se deixar ficar e se desvencilhando das amarras para alcançar o desconhecido.
E as luzes pouco a pouco se acendiam, avisando a alma em extâse
de dor: chegou outra noite, vai segue em frente, a vida restou.
Preenche a taça, se serve do melhor vinho e vai seguindo...
... Brindando a sua dor.
Márcia Barcelos.