Casamento fora de moda?

Casamento fora de moda?

Na segunda-feira passada, fui a um cartório para registrar a compra de um imóvel. Estava para lá de cheio. Era fila para tudo quanto era lado. Dava para confundir porque o número de pessoas era muito grande. Os menos pacientes se exaltavam com a falta de organização. Os idosos não eram respeitados em seu lugar de direito devido a inúmeros casos a serem tratados, no entanto existia uma sala especial para casmento.

Assim, encaracolada em uma fila, tive a primeira decepção: estava na errada. Aquela não era a fila de de registro de venda. Tentei ir para outra. Essa era a de procuração.

Perdida naqueles labirintos me pus em uma outra, mas antes tive a certeza pelo segurança que aquela era a que convinha a realizar o meu serviço e ficava, justamente, no salão onde eram realizados os casamentos. Já mais tranquila, peguei meu livrinho de palavras cruzadas para distrair-me e não sentir o tempo passar. E o tempo passou divertidamente.

Em um outro canto, um casal de senhores idosos discutiam diante do Juiz. Não era nada grave, pelo contrário, era muito, muito engraçado, pois estavam oficializando ali, naquele local, uma união estável de muitos anos. Ele de paletó cinza e calça um um pouco surrada esbanjava sorrisos e parecia bastante à vontade com aquela

situação.

A senhora usava uma saia semilonga escura e uma blusa branca, No íntimo, deveria estar pensando: "Vai ver que essa gente pensa que velho não casa."

Às 9.40h. foram chamados para assinarem os papéis que oficializariam a união. Ela , toda sorridente, aproximava-se para entregar sua certidão de nascimento. O companheiro coloca a mão no bolso e não acha a sua. Mexe de um lado, mexe de outro e, nada.

-Então, Oscar, disse a senhora.

-Pera aí, mulher, acho que esqueci o documento em casa. Vou pedir ao Juiz que fique para um outro dia.

-O quê? Você enlouqueceu?

- Nossas testemunhas estão aqui.

-Vá, vá em casa. Eu posso esperar.

O juiz sorriu.

A senhora nervosa começou a resmungar para mim:" Eu aturo esse homem há mais de vinte anos e ele continua querendo me dar golpes."

O juiz chamou outros casais e deu prosseguimento ao seu trabalho.

Passa-se mais ou menos uma hora e chega o velhote todo atrapalhado. A mulher criou alma nova quando viu o companheiro chegar. E o juiz nem se fala. Apressou-se , conferiu a papelada e pediu que selassem o "incipiente" casamento. Aí deu-se a melódia. O velhote cheio de pose fez uma assinatura rabiscada que não agradou muito ao juiz. Mas , se essa era a assinatura "dele", paciência.

Como exigir daquele senhor coisa melhor, se os doutores em medicina têm , às vezes, assinaturas indecifráveis?

D. Cândida, era esse o seu nome, deu trabalho ao futuro marido e ao juiz quando se pôs a escrever. O companheiro soprava-lhe:

"Não é com "K', é com "C''. Olha que nós treinamos quando saímos de casa."

-Mas eu esqueci

-Espere aí, lembrei. É com a tal letra que é quase uma bolinha

-Isso mesmo. Muito bem!

Não esqueça que a primeira letra tem de ser grande , como grande é o nosso amor

-Já sei. Nomes pessoais com letra grande. Pronto!

Mulher, você esqueceu o 'n"

-Vou fazer de novo

O 'N'' vai dar candura a você.

O juiz sorriu, recolheu o documento e pediu que os dois ficassem em uma outra sala reservada para que assinassem o compromisso do amor.

Dona Cândida não gostou muito, pois tinha pressa em mostrar a vizinhança a certidão do tão sonhado casamento. Ele, o ""velhote " já iniciava uma briguinha com a mulher acusando-a de burrra e culpada por atrasar a cervejada com os amigos.

Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 04/11/2010
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