Conto de fadas pós moderno

Entre dois pequenos jardins com algumas flores murchas e algumas bitucas de cigarro , pois as pessoas ainda não se acostumaram a dar um destino correto para o fim de seu vício momentâneo, uma cafeteria que ostentava um letreiro atrativo na qual umas mesas estavam expostas e poucas pessoas sentadas, já que não era hora de almoço e o local era apenas de passagem. Uma calçada bem asfaltada, embora a saída dos cadeirantes devesse bem mais larga, de modo que pudessem ter mais conforto e a rampa deveria ser, no mínimo, menos inclinada. Não precisaria ser engenheiro para detectar problemas ali.

Moças elegantes com saltos altos com bolsas que combinam mais com a cor do cabelo do que a roupa e moços engravatados com seus sapatos lustrosos. Vez ou outra parava alguém de tênis. Impossível não reparar em alguns tão coloridos e outros sem vida. Enfim, cada um sabe o que cabe no bolso e no bom senso.

Havia também uma banca de jornal. Jornal só? Não. Era um mundo. Não só em palavras mas em praticidades. Tinha uma gosma de mascar que grudava no dente e só uma obturação resolveria. O que aliviava era o refrigerante.

Época de eleição, alguns comentavam em quem melhor assumiria o poder. Outros, que os políticos não prestavam para nada.Enfim. Diferentes opiniões que dali pouco tempo, acabaria sendo decidido.

De certo, aquele semáforo estava demorando demais para fechar. Todos muito impacientes. Um pensamento veio a mente: " Eu só queria atravessar e chegar logo no metro". Pelo menos, não chovia. Senão, a coisa toda iria ser bem mais complexa.

E por mais que apertassem aquele botão para o impaciente pedreste ter o simples direito de ir e vir, não adiantava.

Finalmente, a luz do final do túnel ou melhor, a luz verde indicando que ao transeunte sua vez. E quem estava lá trás, passou na frente e quem estava no meio, ficou no fim. Uma competição para atravessar alguns centrímetros. O que faria se perdesse 2 minutos?

Ao final da quase impossível missão, já logo ao avistar a próxima quadra, sem mesmo tocar o pé direito alguém muito apressado passou correndo. E naquela ânsia de chegar ao seu destino final foi abruptamente quase derrubada.

Nem conseguiu ver seu agressor urbano.

Sim. Quase derrubada.

Sentiu uma mão forte a lhe segurar. O susto foi tão grande que pensou, por um momento: " Foi Deus quem me levantou". Não era a mão nem o braço de Deus. Não conhecemos Deus mas pelo que entendemos, Ele não usa terno e gravata.

Refeita, pode olhar nos olhos de seu " salvador".

Disse ele: " Você estava tão distraída que nem notou que o farol estava quase fechando. Aquele que te empurrou foi para dar-lhe caminho".

Até parecia que tinha batido com a cabeça. Antes tivesse. Assim sairia coisa mais inteligente.

"Éh...eu nem percebi minha lentidão. Obrigada por me levantar". - ela disse.

Extremamente gentil, ele a levantou e a convidou para ir naquela cafeteria com o letreiro atrativo. Ela disse: " Corre-se o risco de algum maluco sem educação tentar me derrubar de novo" - e riu.

" Não posso ficar te levantando o dia inteiro do chão,não é verdade? Perderíamos muito tempo em nos conhecer.Melhor mesmo irmos para algum lugar deste lado mesmo da calçada. O que acha?" - ele propôs.

Aceitar ou não aceitar? Eis a questão. Afinal, era um desconhecido. Sedutor mas desconhecido.

Ela aceitou mas impôs sua condição: " Mas vamos ali naquele local movimentado e com piso antiderrapante".

E foram.

Não. O amor não aconteceu naquele momento.

Poderíamos imaginar que surgiu uma paixão avassaladora. Os olhares se cruzaram. O príncipe encantado apareceu. Que foram felizes para sempre.

Século XXI, pessoal. Hoje em dia está mais para "Viva Las Vegas".

O amor não lhe encontrou de imediato. Pois ela mesma havia jurado que não mais o procuraria. Estava cansada e se ele quisesse, que a encontrasse. Nada mais justo. Pensava sempre:" Eu não tenho mais tempo a perder mas nem por isso vou enlouquecer por ai".

Resolveu agir de outro modo. " Amor, eu não te procuro mais".

E pensando desta forma despojada que o encontrou. Sua vida mudou a partir daquele dia comum de esbarrões, céu claro nesta São Paulo que tanto gosta.

Luciana Menezes
Enviado por Luciana Menezes em 27/10/2010
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