Câmera lenta...

O barulho estridente da partida. O som ficando distante a cada segundo. A sensação de que tudo depende de você e só de você.

Era uma tarde de domingo, fazia muito calor, o ar parado dava a impressão que o tempo não passava. Lembro daquele dia como se fosse ontem, alias acho que me lembro daquele dia mais do que ontem ou do que qualquer outro.

Domingo era dia de ir à casa da vovó,passar a tarde tomando chá enquanto ouvia historias, Seriam belas as fotografias caso pudéssemos tirá-las de momentos assim, mas a verdade é que a simplicidade de ser feliz o flash não capta.Falávamos sobre as férias de verão quando a campainha tocou,era uma amiga da minha avó,as duas se conheciam a anos e a tempo não se viam,tinham muito o que conversar.Retirei-me da sala,peguei minha boneca e fui brincar no quintal.

Enquanto todas as outras crianças estavam na rua brincando eu estava ali e só queria estar ali. As tardes de domingo com a vovó eram sempre as melhores, mas aquela era uma tarde diferente...

Em pouco tempo o tédio me consumiu e eu quase que contei os minutos pra que a tal mulher fosse embora. Ouvi quando elas se levantaram e saíram da sala em direção ao portão. Fui tentando não fazer barulho até o vão da porta pra espiar, pela fresta pude ver minha avó meio cambaleante se escorando na grade do portão enquanto a outra entrava no carro.

Corri até lá para ajudá-la, tentei segura-la, mas não agüentei o peso e fomos ao chão, ela estava desacordada e naquele momento o mundo pareceu amarelado e em câmera lenta. As lagrimas insistiam em cair dos meus olhos.

-Me ajuda!-Pedi com a voz embargada, eu teria implorado caso tivesse tido tempo,mas ela ligou o carro e partiu,vi quando ela virou a esquina acelerando aquele maldito fusca marrom. Eu ali parada num quase desespero, sentada no chão com ela em meu colo.

Os anos se passaram, não tenho mais sete anos de idade, mas ainda não entendo. Confesso que não busco entender, uma das coisas que aprendi é que as pessoas só dão aquilo que tem, ninguém agirá com compaixão, solidariedade ou qualquer outra coisa se não as possuir e vai ver a culpa não é de ninguém...

Jéssica Posenato
Enviado por Jéssica Posenato em 26/10/2010
Reeditado em 27/10/2010
Código do texto: T2579366
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