O Jardineiro
Em todas as manhãs de domingo, pouco depois do Sol ter se levantado, o jardineiro chegava. Trazia em uma das mãos a caixa com as ferramentas de seu ofício: tesoura para grama, pá não muito maior que uma mão e garfo para afofar terra. Espalhava o conteúdo ali mesmo, perto dos crisântemos.
De olhos sempre sérios – numa tentativa mal sucedida de esconder o cansaço – olhava a extensão do pequeno jardim. Derruba os formigueiros e arrancava ervas que insistiam em crescer. Usava a tesoura na grama que, vinda de fora, tentava escalar os tijolos cobertos de concreto. Revolvia a terra em alguns pontos e, de vez em quando, pegava o regador, fazendo chover sobre violetas e jasmins.
A linha colorida era um limite. Circulava o sepulcro dando um pouco de vida aos ladrilhos brancos e estéreis. Uma fotografia era vista lá dentro através de duas portas de vidro. Embaixo daquele rosto sorridente e jovem estampado em papel, havia um nome e algumas datas.
Aqueles que prestassem atenção notariam a triste semelhança entre o retrato em preto e branco e o jardineiro. Eram expressões opostas, de fato. Enquanto um sorria imóvel, o outro carregava na face a memória do que há muito fora levado pelo tempo.