Tarde de outono...
Era começo de outono, as folhas amareladas se espalhavam pelo chão do quintal. Joana completaria sete anos naquele dia. Apesar da vida simples que levavam, resolveram fazer uma festa de aniversario. Ela convidou suas coleguinhas da escola, por volta de quatro horas da tarde elas estariam em sua casa. A festa era simples, bolo com cobertura de clara de ovos em neve e granulados coloridos por cima, para beber suco de uva daqueles artificiais de saquinho.
Penteou o cabelo fazendo duas chiquinhas,uma em cada lado da cabeça.Vestiu um vestidinho branco de alcinhas e rodado na cintura que sua mãe tinha ganhado de uma patroa cuja filha não cabia mais nele.Calçou suas sapatilhas,sentiu os dedos dos pés apertados,mas não reclamou,apesar do furinho que tinha na sola era o seu melhor sapato.
Debruçou-se no parapeito da janela e ficou olhando na expectativa de ver suas amigas chegando. Aquele era o primeiro ano em que pode convidar alguém, alias era o primeiro ano em que ela se lembrava de ter alguma comemoração em seu aniversário.
Sua mãe arrumou a mesa da cozinha, não sem reclamar das dores nas costas. Eram quase que nove meses completos de gestação, o filho homem que seu pai tanto desejava. Um filho pra passar adiante o sobrenome da família, um filho pra suprir as expectativas, pra jogar futebol aos finais de semana e ensinar as coisas da vida...
Alguns minutos depois viu suas coleguinhas atravessarem o portão principal e foi correndo ao encontro delas. Conversaram um pouco no pátio e logo a mãe as chamaram para cantar parabéns logo, pois estava enjoada e pretendia se deitar.
Formaram um circulo ao redor da mesa, ela subiu em cima de uma cadeira e assim começaram a cantar “parabéns pra você” batendo palmas. Ela olhou ao redor e sentiu envergonhada, não sabia se cantava, se batia palmas... Ficou sem jeito a ponto de não saber o que fazer com as mãos, sentiu sua face esquentar e o desespero entalou em sua garganta. Desceu da cadeira em um pulo ao chão, saiu em disparada pro banheiro, se trancou e só conseguia pensar em chorar. Viu as coisas ao seu redor girarem, sentou-se em um canto prendendo as pernas de encontro ao peito, enquanto ela ouvia sua mãe enérgica batendo na porta e gritando seu nome. Ela não sentiu o tempo passar, mas as lagrimas não caiam mais, não ouvia mais o barulho das meninas da cozinha e pelo vitrô enferrujado do banheiro percebeu que já tinha escurecido. Destrancou a porta fazendo menos barulho possível, a casa já estava trancada e sua mãe dormia. Retirou os sapatos com cuidado, trocou o vestido por uma camiseta velha e se deitou.