Memórias da infância...
Era uma tarde de domingo, tinha parado de chover havia pouco tempo. As poucas crianças que haviam por ali provavelmente ainda estavam entulhadas em suas casas, não tinha ninguém pra brincar. O chão estava enlameado, o cheiro de terra molhada se propagava pelo ar.
O lugar era quase que um cortiço, várias casas que dividiam um único quintal, o chão era de vermelhão um tanto quanto descascado. Nos dias de chuva o vento fazia parecer que tudo por ali era lama.
No quintal, na parede ao lado da porta havia um tanque comunitário de lavar roupas, cheio de água devido à chuva. Joana tinha pouco mais que quatro anos e um tédio como quem tivesse passado a vida toda ser fazer nada.
Sua mãe era faxineira, uma mulher guerreira que talvez por natureza própria ou pela dureza da vida tinha se tornado amarga e infeliz, infeliz a ponto de se incomodar com a felicidade alheia. Sobre o pai ela pouco sabia, ele voltava pra casa algumas raras vezes, a mãe dizia que ele era garçom numa cidade vizinha, a garota nunca entendeu porque elas não podiam ir morar na cidade dele.
Era um tempo em que essa historia de proteção a criança e ao adolescente era mito, muito se ouvia falar, mas pouco se fazia a respeito. As crianças eram educadas através da ignorância e violência, pelo menos as crianças mais pobres como era o caso daquela menina.
Não passavam fome, mas também não tinham muito alem disso. Pra muitos, aquela vida não era viver, era apenas sobreviver.
Na procura do que fazer Joana espiou pela fresta da cortina que separava o quarto da cozinha e pode ver que sua mãe estava deitada no coxão, dormindo profundamente. Foi até o quintal e teve a infeliz idéia de brincar de balanço no tanque, depois de alguns poucos minutos o peso da menina fez com que o mesmo virasse a encontro dela, prendendo ela no chão com a parte superior pressionando fortemente seu pescoço. Além do tanque de cimento, veio no rosto dela toda água que estava nele, depois de engolir muita água e ficar um tanto quanto zonza, quando a água acabou finalmente teve forças e fôlego para gritar.Coincidentemente um roceiro que tinha criação de animais a alguns lotes dali passava empurrando sua carriola que vez por outro atolava no barro.Ele escutou os gritos e o choro da menina e foi ao encontro dela.No mesmo instante a mãe dela foi até a porta verificar o motivo da gritaria,quando viu o que tinha acontecido desmaiou sem antes conseguir socorrer a filha.O homem que aparentava ter pouco mais de cinqüenta anos ergueu o tanque e ajudou a garota a sua levantar.
-Tá tudo bem, princesinha?
-Tá sim senhô. –Respondeu aos prantos, muito ofegante.
Em seguida ele foi ver o que tinha acontecido com a mulher, uns poucos tapinhas em seu rosto fez com que ela acordasse. Quando deram por si, Joana não estava mais lá, tinha corrido e se escondido atrás do pomar que havia no fundo do quintal, apesar da pouca idade ela já imaginava a bronca e a surra que levaria pelo que tinha feito. cena que já tinha ocorrido várias vezes antes por muito menos.