ALMA DELINQUENTE...
A noite seguia em direção a anunciada aurora. Ainda ficavam no céu fitando esquecidas algumas pequenas estrelas que se perdiam das imensas constelações.
Aldebarã ainda se deixava ficar, primeira a chegar no céu matizado da tarde, última a retirar o próprio e já solitário brilho do firmamento. Talvez quisesse ter a certeza da cor que se pintaria o novo amanhecer.
O vento úmido/ frio apesar da noite/madrugada de primavera, marcava a pele e desfibrilava a alma saudosa.
A alma, que se debatia perdida entre saudade e goles de vinho sorvidos da taça qua fazia as vezes de cobertor do corpo e agasalho da mente/dormente.
O mar batia sua força nas pedras geladas/inertes/disformes, engolia a areia e as ondas se desfaziam na praia deserta, em uma espécie de
comboio marinho.Uma orquestra sem maestro.
Ao longe as tênues lâmpadas que sobreviviam a noite escura e oleosa que se arrastava/arrancava dores e ausências das entranhas mais profundas.
Estranha composição da invernal noite primaveril, com a fria alma ressentida/ressecada que se fazia/desfazia junto a mesa de bar.
A alma inebriada/embriagada de sensações misturadas tomava um porre de enormes proporções e a solidão estava tão próxima e intensa apesar de suave que se fez sua confidente/imprudente/inconsequente.
Alma delinquente...
... se entregou a solidão de tanto amparar seus próprios passos e acabou se tornando abrigo seguro/ cais que surge das incertezas do mar.
Seguia a noite, em tentativa de alcançar Aldebarã e teve como companhia um par perfeito que seguiam passo a passo, paradoxalmente lado a lado: a saudade e a solidão, que se completavam e a deixavam sempre tão vazia.
Márcia Barcelos.