ALMA DELINQUENTE...

A noite seguia em direção a anunciada aurora. Ainda ficavam no céu fitando esquecidas algumas pequenas estrelas que se perdiam das imensas constelações.

Aldebarã ainda se deixava ficar, primeira a chegar no céu matizado da tarde, última a retirar o próprio e já solitário brilho do firmamento. Talvez quisesse ter a certeza da cor que se pintaria o novo amanhecer.

O vento úmido/ frio apesar da noite/madrugada de primavera, marcava a pele e desfibrilava a alma saudosa.

A alma, que se debatia perdida entre saudade e goles de vinho sorvidos da taça qua fazia as vezes de cobertor do corpo e agasalho da mente/dormente.

O mar batia sua força nas pedras geladas/inertes/disformes, engolia a areia e as ondas se desfaziam na praia deserta, em uma espécie de

comboio marinho.Uma orquestra sem maestro.

Ao longe as tênues lâmpadas que sobreviviam a noite escura e oleosa que se arrastava/arrancava dores e ausências das entranhas mais profundas.

Estranha composição da invernal noite primaveril, com a fria alma ressentida/ressecada que se fazia/desfazia junto a mesa de bar.

A alma inebriada/embriagada de sensações misturadas tomava um porre de enormes proporções e a solidão estava tão próxima e intensa apesar de suave que se fez sua confidente/imprudente/inconsequente.

Alma delinquente...

... se entregou a solidão de tanto amparar seus próprios passos e acabou se tornando abrigo seguro/ cais que surge das incertezas do mar.

Seguia a noite, em tentativa de alcançar Aldebarã e teve como companhia um par perfeito que seguiam passo a passo, paradoxalmente lado a lado: a saudade e a solidão, que se completavam e a deixavam sempre tão vazia.

Márcia Barcelos.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 18/10/2010
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