A Morte do Português

A notícia dizia:

- Assassinaram o português! Uma morte violenta sem suspeitos, a grande tragédia nacional!

Todos assistiam ao noticiário do momento, a espera da solução para mais um caso que chocou a sociedade. Os jornais sensacionalistas não pouparam saliva e aproveitou cada boato para causar terror a população. Os repórteres polemicistas não hesitaram em nenhum momento com suas falas inquietas e exaltadas. A pergunta que não queria calar era; Quem afinal de contas matou o pobre do português?

Foi ai que Astrogildo entrou na história, dizendo em claro e bom som;

- Fui eu qui matei aquele disgraçado!

Todos ouviram aquele homem de fala estranha, de poucos dentes na boca e chinelo de dedo falando as câmeras em rede nacional e todos queriam saber por que raios ele havia assassinato o coitado do português, que era uma pessoa tão boa.

- Eu matei memo, tava ficando doido com aquele coisa mi corrégindo, ai num consigui me contola...

Os ouvidos doíam a cada palavra, mas o homem continuou;

- Num sei pusque tão achando ruim, a gente temos político paiaçu. Presidente anarfabeto. Bancário ladrão. Motorista de ombús bebadu. Inte meu filho disse que num ia estuda mais, pra que?...vejo um montão de coisa nesse pais, pusque num posso fala errado!

Toda a sociedade ficou horrorizada com as declarações do homem. Como toda a hipocrisia típica eles o julgaram e sentenciaram a prisão. Jamais souberam que aquele pobre homem, fora órfão, nunca teve acesso aos estudos, passou fome, sofreu preconceito. E que apesar de ter matado o português ele ainda tinha a sensatez de enxergar o que estava errado e não fechar os olhos e calar a boca, negando a ser mais um comum, dentre todos os outros comuns.

Taiane Gonçalves Dias
Enviado por Taiane Gonçalves Dias em 14/10/2010
Código do texto: T2556591
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