Tinha dois irmãos que não eram fáceis, Juca e Lú. Eles eram demais!
Não tinham limites para sua imaginação, e eu, filha caçula, de uma família numerosa, ainda nascida na menopausa da mãe, era considerada o xodó, sinônimo de chata.... Abusava desta condição.
Meus irmãos, de mentes brilhantes e férteis, resolveram criar uma "geringonça", que a chamaram de "Asas voadoras". Consistia num pedaço de lona, varetas de madeirite com amarração de cordas de bacalhau e arames. Parecia uma grande pipa colorida.
Morávamos numa cidade pequena no interior do estado do Rio, numa enorme casa com o quintal a perder de vista... Vivíamos em uma liberdade maravilhosa para realizar todas as traquinagens próprias de nossas idades.
Na divisa da propriedade havia um barranco, e um pouco antes de uma grande horta havia um brejo de taboas, o que era, em nossa imaginação, um grande lago povoado de jacarés e bichos peçonhentos... E depois de passarmos por todos os perigos imaginários, chegávamos ao local de nossa nova experiência, que nem sempre deixavam que eu participasse...
Eu era uma espécie de mascote, a quem tudo era proibido por ser menor e o xodó do papai, mas assistia maravilhada as peripécias deles e a tal "geringonça" funcionar...
Para colocá-la em funcionamento, era simples: Tomavam distância e saltavam do barranco, como pássaros se equilibrando naquela "coisa" e aterrissavam saindo ilesos daquela brincadeira encantadora. A cada dia da brincadeira eu era a expectadora que não conseguia convencê-los a participar. Comecei a infernizá-los que contaria para os nossos pais o que eles estavam aprontando...
Aí, realmente os convenci. Pude realizar meu sonho de ser um Ícaro... Claro, havia condições, de não contar o segredo da tal "geringonça".
E lá fui eu, tomei distância e corri para o grande salto com espírito aventureiro e sem nenhum tipo de preocupação. Era o meu primeiro vôo... direto para o chão!
Chorei tanto, mais de medo que da dor, porque com o tombo quebrara a "geringonça" deles. Totalmente ralada, e com a cara manchada de terra e lágrimas, meus irmãos ainda disseram - " Nenhum pio sobre o tombo, senão, sabe o que faremos com você? O que fizemos com o Pepino". Aí que me debulhei em lágrimas, lembrando do nosso cãozinho vira-lata, Pepino, que eles mataram afogado no córrego que cortava a propriedade e que tocava o moinho lá de casa...
Em casa, já recuperada do susto, nada falei. As dores se tornavam intensas mas sofria caladinha. Porém, nem tudo fica escondido por muito tempo, e num domingo quando íamos para a igreja, minha mãe foi me aprontar e como estava frio, me vestia um casaquinho destes que tem como gola um cachecol. Ela puxou meu braço, gritei e comecei a chorar...
Ela verificou o que havia de errado com meu braço, e, percebeu o inchaço e as manchas dos hematomas. Imediatamente comunicou ao meu pai, que foi às pressas ligar o caminhoneta, daquelas antigas, que tinha uma manivela para acionar o motor. Partimos em disparada para o hospital, e no percurso, tive que relatar o que havia acontecido.
Quando o médico me assistiu, ainda chamou a atenção deles, por não terem me levado a tempo de uma recuperação melhor, pois quebarara o braço e a clavícula, e que ela já havia encanado, ou calcificado, não lembro exatamente como disseram. Era imensa a dor que estava sentindo... Mas, o braço ainda teria correção. Saí do hospital com um colete de gesso.
Na volta pra casa só conseguia pensar na minha traição e se o destino trágico que tivera o Pepino seria o meu também...
Claro que a ameça não se cumpriu, mas fiquei um bom tempo sem participar das brincadeiras. E, foi uma das coisas que nunca esqueci, pois até hoje, tenho um pequeno defeito na clavícula que realmente ficou fora do lugar. Bem, o castigo dos meus irmãos vocês já podem imaginar qual foi...
Não tinham limites para sua imaginação, e eu, filha caçula, de uma família numerosa, ainda nascida na menopausa da mãe, era considerada o xodó, sinônimo de chata.... Abusava desta condição.
Meus irmãos, de mentes brilhantes e férteis, resolveram criar uma "geringonça", que a chamaram de "Asas voadoras". Consistia num pedaço de lona, varetas de madeirite com amarração de cordas de bacalhau e arames. Parecia uma grande pipa colorida.
Morávamos numa cidade pequena no interior do estado do Rio, numa enorme casa com o quintal a perder de vista... Vivíamos em uma liberdade maravilhosa para realizar todas as traquinagens próprias de nossas idades.
Na divisa da propriedade havia um barranco, e um pouco antes de uma grande horta havia um brejo de taboas, o que era, em nossa imaginação, um grande lago povoado de jacarés e bichos peçonhentos... E depois de passarmos por todos os perigos imaginários, chegávamos ao local de nossa nova experiência, que nem sempre deixavam que eu participasse...
Eu era uma espécie de mascote, a quem tudo era proibido por ser menor e o xodó do papai, mas assistia maravilhada as peripécias deles e a tal "geringonça" funcionar...
Para colocá-la em funcionamento, era simples: Tomavam distância e saltavam do barranco, como pássaros se equilibrando naquela "coisa" e aterrissavam saindo ilesos daquela brincadeira encantadora. A cada dia da brincadeira eu era a expectadora que não conseguia convencê-los a participar. Comecei a infernizá-los que contaria para os nossos pais o que eles estavam aprontando...
Aí, realmente os convenci. Pude realizar meu sonho de ser um Ícaro... Claro, havia condições, de não contar o segredo da tal "geringonça".
E lá fui eu, tomei distância e corri para o grande salto com espírito aventureiro e sem nenhum tipo de preocupação. Era o meu primeiro vôo... direto para o chão!
Chorei tanto, mais de medo que da dor, porque com o tombo quebrara a "geringonça" deles. Totalmente ralada, e com a cara manchada de terra e lágrimas, meus irmãos ainda disseram - " Nenhum pio sobre o tombo, senão, sabe o que faremos com você? O que fizemos com o Pepino". Aí que me debulhei em lágrimas, lembrando do nosso cãozinho vira-lata, Pepino, que eles mataram afogado no córrego que cortava a propriedade e que tocava o moinho lá de casa...
Em casa, já recuperada do susto, nada falei. As dores se tornavam intensas mas sofria caladinha. Porém, nem tudo fica escondido por muito tempo, e num domingo quando íamos para a igreja, minha mãe foi me aprontar e como estava frio, me vestia um casaquinho destes que tem como gola um cachecol. Ela puxou meu braço, gritei e comecei a chorar...
Ela verificou o que havia de errado com meu braço, e, percebeu o inchaço e as manchas dos hematomas. Imediatamente comunicou ao meu pai, que foi às pressas ligar o caminhoneta, daquelas antigas, que tinha uma manivela para acionar o motor. Partimos em disparada para o hospital, e no percurso, tive que relatar o que havia acontecido.
Quando o médico me assistiu, ainda chamou a atenção deles, por não terem me levado a tempo de uma recuperação melhor, pois quebarara o braço e a clavícula, e que ela já havia encanado, ou calcificado, não lembro exatamente como disseram. Era imensa a dor que estava sentindo... Mas, o braço ainda teria correção. Saí do hospital com um colete de gesso.
Na volta pra casa só conseguia pensar na minha traição e se o destino trágico que tivera o Pepino seria o meu também...
Claro que a ameça não se cumpriu, mas fiquei um bom tempo sem participar das brincadeiras. E, foi uma das coisas que nunca esqueci, pois até hoje, tenho um pequeno defeito na clavícula que realmente ficou fora do lugar. Bem, o castigo dos meus irmãos vocês já podem imaginar qual foi...