O encontro
Ele levantou, inacreditavelmente, às 06 da manhã. Naquele dia nem o cachorro o havia acordado. Levantou como se ressuscitasse, havia tido sonhos estranhos envolvendo fotos recortadas, pessoas de olhos multicoloridos e lamparinas fosforescentes.
Foi ao banheiro olhou seu inacreditável reflexo no espelho, os cabelos estavam estranhos, a barba por fazer, nesse momento o cão o olha e dá um latido como se o acordasse para o banho. Passou creme para afeitar e olhando fixamente seu espectro de barba sumindo. Entrou debaixo da água quente, meditou coisinhas fofas, lavou o cabelo, ensaboou-se todo. A água o aquecia.
Já estava levemente atrasado, o banho foi deveras demorado. Correu para se vestir, correu para ver se não havia esquecido nada (nenhum de seus afagos completamente e igualmente importantes) correu para o taxi. O taxista estava feliz, com um olhar de boa noite de sono (inveja) rumou à rodoviária (quase sem tempo). Comprou a passagem, embarcou no ônibus e pensou:
- Sim, eu estou fazendo isso (repensando se [sim] ele deveria estar fazendo aquilo).
Ligou seu MP4, escolheu algumas músicas que lhe permitiriam viajar por fora do ônibus, nas nuvens e ruídos. Aquele método de condução parecia não andar, pensara até em descer do veículo e ir correndo (nosso personagem é muito ativo, necessita estar sempre fazendo algo para se sentir vivo). Mas agüentou, Nando Reis sempre o acalma.
Chegado o local. Faltavam ainda 40 minutos para a primeira possibilidade (incerta, ele admitia) ou 2h40min para a segunda possibilidade ou ainda... havia a terceira... nessa ele não queria nem pensar (a menos provável, aliás, havia 37% de chances de acontecer, mas ele se jogou mesmo assim).
Senhoras e senhores leitores, é nesse momento que aquelas coisinhas começam a acontecer, os segundos pareciam durar muito mais, as horas então nem se fala.
- Acabou a bateria do MP4! (confiou na tecnologia, não trouxe um livro!) Indignou-se.
Agora era ele e ele e mil pensamentos. Saiu a perambular pela cidade, à procura de nada e depois à procura de uma casa com primeiro andar e roseiras, havia tantas, em algumas ele pensou:
- ela poderia morar aqui. Será?
Na verdade era tudo uma distração. Tomou um café, um iogurte e as horas começavam a passar. Chegava perto da segunda possibilidade (haja vista que a primeira já passara sem resultados). Ele esperou...esperou... faltavam 10 minutos...esperou... não resistiu, comunicou-se. Ela respondeu. Eles se encontraram. Não da forma como ele havia pensado meticulosamente, foi de uma forma torta com ar de mistério.
Ela olha fixamente o nada, o ar de nostalgia do lugar. Ele, bem, entregou a primeira carta em que ela imediatamente leu. Fitou-a atentamente, assistiu suas pupilas focarem o texto. Sorriu, talvez incrédula, talvez não. Lívida, encara-o, diz algumas palavras, levemente constrangida, toca-lhe o rosto com o olhar. Ele já não sabia que simples sentimento deveria demonstrar, então demonstrou encanto (óbvio que a autenticidade pode lhe causar infortúnios).
Ele estava tímido, ela com um cabelo lindo, vestes que não suas e olhos (naquele momento) verdes, uma quase francesinha perdida nos trópicos. O tempo passou rápido. Vinte minutos, seu telefone não parava de tocar, ela precisa ir. Ele entendia.
Levantaram-se, encaminharam-se até o pórtico de saída, abraçaram-se e ela se foi... com passos leves... cabelos ao vento e seu ar de mistério. E ele? Bom, ele fitou-a até onde seu olhar alcançou.. ela pára, olha pra trás, segue. Ele parado, focado, pensativo, ainda sentindo um perfume marcante... despede-se daquele momento e volta à realidade.