"Uma manhã qualquer"
Tomado pela velha síndrome de fazer compras nos sábados de manhã ele andava tranqüilo apreciando a beleza do céu límpido e anil. O dia parecia perfeito para um passeio pelo centro da cidade.
Estaria mais perfeito se não fosse o calor que abrasava sua face e o fazia transpirar devido estar um tanto acima do peso, apesar disso lhe conferir certo charme.
Parecia extremamente descontraído, metido em uma gostosa camiseta de malha que fazia par com a bermuda de brim e a sandália folgada, nada podia estragar-lhe o humor.
Olhava uma vitrine após outra, sem pressa. Ao passar em frente a uma livraria, um livro em especial lhe chamou a atenção, resolveu entrar para conferir mais de perto.
A atendente desejou-lhe bom dia e ele retribuiu com um longo sorriso que deixou o rosto jovem ainda mais bonito e saudável.
Pegou o livro que estava na primeira prateleira de madeira rústica e começou a folheá-lo, prestou atenção no título e na capa e depois de alguns minutos devolveu-o ao seu lugar.
Agradeceu a gentil atendente e saiu satisfeito.
Logo na entrada da livraria podia-se ver um charmoso banco de ferro torneado, tinha assento de madeira antiga e estava instalado entre duas jardineiras que acomodavam lindas margaridas amarelas.
Parecia extremamente convidativo.
Resolveu acomodar-se um instante e relaxar, afinal, fora com esse propósito que saíra.
Sentia-se leve e ficou ali a observar os transeuntes que passavam de um lado para o outro.
De repente algo lhe chamou a atenção, dobrando a esquina devagar ela parecia flutuar, sua beleza delicada destacava-se entre a multidão. Usava um vestido estampado voluptuoso que parecia dançar ao som da leve brisa que soprava.
Pensou estar tendo uma visão, o coração batia forte no peito e não conseguia desgrudar os olhos da menina.
Ela entrou na mesma livraria, e atento, viu quando ela perguntou para a atendente sobre um livro. Mal pôde acreditar ao perceber tratar-se do mesmo livro que ele estava folheando outrora e teve que entrar para não perdê-la de vista.
Dirigiu-se para o corredor em que ela estava, pegou um livro qualquer para disfarçar seu interesse pela garota e ajeitou os óculos, enquanto a observava atentamente.
Chamou-lhe a atenção o modo como ela segurava o livro delicadamente, tinha os dedos longos e finos, olhos negros e espertos a pele levemente rosada fazendo par perfeito com os cabelos cacheados e a boca vermelha.
Confuso, pegou-se a pensar: Como se pode amar uma mulher sem nunca tê-la visto antes? Como gostar de alguém sem nunca tocar-lhe? Parecia contraditório, mas era isso o que estava sentindo naquele momento.
Acreditaria em amor a primeira vista? Como isso seria possível? Um turbilhão de perguntas martelava sua cabeça quando foi abruptamente interrompido pela saída apressada da garota.
Ele ficou atônito sem saber o que fazer. Será que acabaria assim, sem mais nem menos? Nunca mais voltaria a vê-la? Pensou tanto que a perdeu de vista. Suspirou derrotado.
Resolveu enfim comprar o livro que fora pivô de tamanha confusão, levou-o ao caixa cabisbaixo, pagou para a moça que sorriu, mas, ele não retribuiu.
Tamanha a surpresa quando viu a bela jovem recostar-se no balcão com seu reluzente vestido floral. Ela esboçou um singelo sorriso que lhe iluminou a face e disse gentilmente apontando para o livro que ele acabara de comprar:
– Será que você pode me emprestar quando acabar de ler?
Ele sorriu de volta e fez que sim com a cabeça.
Entreolharam-se por um momento e sorriram envergonhados feito duas crianças inocentes.
(Baseado em uma história real)
Obs. Este texto é o roteiro da música: “Palavras ao vento” que pode ser ouvido na minha página em:
Áudio/Canções/ Palavras ao vento