O JEITINHO

Na sala de espera de um consultório médico.

-Vocês já passaram necessidade?

-Já.

-E como!!

-Até ovo eu fritei no ferro elétrico, por falta de gás.

-No início do meu casamento, dividia um ovo com meu marido e ficávamos satisfeitos. Fazer o quê?

-E eu vendia pastéis sem sustância nenhuma.

-Eram pastéis literalmente de vento?

-Que jeitinho você dava?

-Cozinhava a carne moída de segunda, é claro, e tirava o caldo para enriquecer a comida das crianças. Depois, punha todos os temperinhos e recheava os pastéis. Não sobrava um.

-Quando os meus filhos eram pequenos, não podíamos comprar leite todos os dias. Aí, eu pedia ossos no açougue, fazia um caldo suculento e lhes dava na mamadeira.

-Boa ideia.

-Que peninha! Nunca pensei em fazer uma coisa dessas.

-Vocês não sabem que do boi se aproveita tudo?

-Eu sei. Só não se aproveita o berro.

-E nem os puns.

-É porque prejudica o meio ambiente.

-Sério?!

-Nossa! Imaginem uma fazenda, com cinco mil cabeças de boi soltando pum.

-Estou imaginando.

-Não há camada de ozônio que aguente.

-Puxa vida! Sempre admirei um pasto todo verdinho, repleto de animais e nunca parei para pensar neste detalhe tão importante!

-Ai, gente, este assunto me deixou com a consciência pesadíssima!

-Ah, não! Têm coisas muito piores do que isso no mundo!

-Não acredito que a sua consciência pesou só por conta disso.

-Pois é... É porque eu sou uma punzeira em potencial.