O DEMENTE.
Chagaspires.
Em qualquer pequena cidade interiorana, ou mesmo em bairros de grandes capitais, existe sempre um. E na minha não poderia faltar.
O pobre demente já andava com um porrete para se defender dos abusos de alguns adultos inconseqüentes e do assédio da garotada que para vê-lo irritado gritava o apelido que mais o enraivecia.
Seu Home...
Esse apelido era a causa do descontrole do desafortunado vivente.
A corriola se ajuntava e se escondia na esquina da rua; quando avistava o coitado, meu irmão Luis que era um dos mais afoitos gritava o impropério.
A garotada toda se ouriçava e saia em desabalada carreira. Pernas pra que te quero.
Quem era doido para ficar parado.
O Homem bramia o cacete no ar e coitado de quem ele pegasse. Levava uma surra tamanha que ficava todo moído, tendo quer ser lavado com água de sal.
Quando ninguém o xingava ele era uma pessoa quase normal.
Fazia pequenos trabalhos quando solicitado e por uma simples moedinha poderia ir a quitanda comprar alguma verdura; limpava o mato dos jardins, carregava água potável para beber, já que não se tinha água tratada e até mesmo levava alguns recados dos quais se necessitava.
Enquanto mingüém bulia com ele tudo ficava bem. Nem parecia ter algum problema mental.
Mas a garotada persistente não o deixava em paz. E por meu irmão ele nutria um ódio desenfreado pois toda vez que ele avistava o coitado do demente, ia logo chamando o apelido tão odiado.
E não é que certo domingo ao voltarmos da missa das oito quando íamos pela ladeira em direção a nossa casa, como num passe de mágica, saiu de dentro dos matos nada mais nada menos de quem?... Seu Home com o tão temido porrete na mão.
Disparamos pela subida em desenfreada carreira, mas para desencanto do meu irmão e alegria do famigerado demente, uma pedra mais proeminente do calçamento causou a queda do endiabrado infante que foi logo castigado com a permissão Do Divino Onipotente, pelo enfurecido personagem.
Além de ter recebido o merecido castigo, ao chegar em casa ganhou de lambuja uns bons puxões de orelha da mãe que o fez prometer nunca mais abusar com a pobre criatura, aprendendo desta maneira que com pessoas desajuizadas não se brinca.