VIAGEM AO CENTRO DA ALMA.
Se debruçou em um pôr-de-sol primaveril com ares e cores de verão,por entre as paisagens guardadas na alma, sua janela particular.
Viu os últimos raios irem aos poucos deixando o firmamento colorido para receber sorrateiramente as estrelas que iriam compor o manto emoldurado da noite.
Despiu a alma de pudores e se desvendou sem fantasias. Se reencontrou/se perdeu em lembranças/saudades e dores dos amores vividos/ sofridos.
Caminhou pelo centro de sua mente aflita e sentiu pulsar junto ao coração as lágrimas/ chuvas da vidraça da alma.
Pensou em como havia chegado até aquele ser.
Lembrou seu sorriso, seu abraço, sua meiguice, sua voz, seu cheiro...
...Pode alcançá-lo na alma das remotas/revividas/resgatadas lembranças.
Novamente reviveu/reviu/reuniu, cada encontro, cada beijo/desejo/entrega/espera/desespero.
Mas,os pés falsearam na caminhada por sua alma e caiu de sua própria altura nas entranhas/estranhas do seu sentimento.
Pareceu involuir entre suas células/ nervos/neurônios/músculos e óvulos.
Lua cheia, minguando amor/desamor/dor...
Novamente se entregou/desintegrou,se desfez/refez,se compartilhou e partiu de si mesma.
Parecia chover em temporal sua alma.
Não entendia o adeus que chegava, não atendia ao futuro que ora presente, deixava apenas o passado, que hoje sabia seria sempre imperfeito/inacabado/inalcansável além da lembrança.
Se levantou do beiral/precipício no qual se deixou ficar, abriu os olhos lentamente, passo á passo deixou novamente para trás saudades
e lembranças...
... Olhou para o céu aqui de fora e já era noite alta.
Percebeu que viajou por alguns longos minutos em seu próprio e único universo íntimo/interior/intenso.
Um mundo particular, espécie de confissionário do qual fugia por medo de se enfrentar frente a frente consigo mesma.
Deixou naquele mergulho, caminhando sob/sobre si mesma um pouco do muito que se permitia ter de concreto: a saudade abstrata.
Se levantou de seu passeio interno e se atirou pela imensidão do infinito em uma espécie de suicídio da alma envolta de lacerações de saudades/ aflitas/requentadas/revividas.
Se enfeitou com as estrelas, voou com a brisa vinda do oceano e se deixou apenas continuar vivendo o presente oco de futuro e repleto de passado ...
... Saiu pela noite e deixou que todos, inclusive ela mesma acreditassem que era feliz.
Márcia Barcelos.