O bêbado...
Numa esquina próxima, buscou consolo em um bar. Afogava as mágoas que caíam no copo, com a miséria e as lágrimas a transbordar.
Seu corpo, errante, fora então abraçado pelas ruas vazias na madrugada.
Inconsciente, era apenas dor ambulante. Uma dor que enganava a realidade; a dor de ser e também a de sentir todas as frustrações que o fato de ser lhe causava.
Zé acordou com o barulho dos carros. Sua ressaca foi interrompida pela tempestade urbana que rodeava a rua. A realidade voltava a surgir na medida em que as pessoas apareciam como fantasmas que o relembravam todo o caos que havia esquecido.
Levantou, meio sem graça e sem equilíbrio, e lembrou que estava atrasado para o trabalho. Dormira na rua, como um vira lata. Precisava voltar para casa, pois estava “um lixo”, mas já não tinha tempo suficiente.
Já nem lembrava o motivo de estar ali, largado na rua e já sem sua carteira, mas sabia, quase que mecanicamente, que teria de se apresentar no trabalho. Disse a si mesmo um desaforo e foi correndo para a empresa.
Após dar uma desculpa e levar uma bronca pesada de seu chefe, sentou-se na cadeira e viu aqueles relatórios de tarefas acumulados com indiferença. Brigava, agora, com o sono de uma noite mal dormida e a rotina de seu dia a dia.
Depois das horas extras que havia trabalhado para compensar seu atraso, saiu da empresa, já bem tarde.
Chegou, enfim, em casa, bem cansado, ainda que sem o peso das responsabilidades, apesar de estar sobrecarregado. Viu, logo em seguida, uma velha garrafa de uísque sobre a mesa. Esquecera que a havia colocado ali e o motivo da presença do objeto já não aparecia com tanta importância na cabeça de Zé, o que não o impediu de aventurar-se dose por dose no conteúdo atraente da garrafa. E assim foi levado, gole por gole, ao prazer instantâneo e letal.
Saltou pela janela e, assim, deitou-se novamente entre as ruas vazias... Será que o mundo o ouviria agora?