Tragédia no Brasil
Tragédia no Brasil
Autor: Larry Redon
Ele estava envolvido em seu roupão de seda quando ouviu a notícia sobre a tragédia no Haiti. Ora, ele, homem sensível que era, e possuidor de grandes riquezas não poderia deixar de arregaçar as mangas para ajudar aquele povo sofrido. Parou um instante defronte da janela e olhou para rua. Viu um mendigo robusto a pedir um prato de comida e disse para si: “um vagabundo desse, forte, pedindo comida enquanto os pobres morrem sob os escombros!”
Decidiu sair. Chamou a empregada e disse-lhe que ia ajudar o povo do Haiti. Ficou estupefato quando a empregada perguntou-lhe se ele viajaria ao país. Como? Que idéia! De onde a empregada tirara tal idéia? Ele, homem sensível, ficar exposto a todo tipo de doença! Não, esta idéia só poderia ter vindo da vassalagem! O máximo que poderia fazer era ir ao banco e mandar uma boa quantia para o país!
Ao sair, viu novamente o mendigo e falou entre os dentes: vagabundo! Tomara que um carro o atropele! Uma tragédia destas deveria ter acontecido no Brasil para acabar com esta gente vagabunda!
Mal acabou de falar e o pobre mendigo já estava debaixo do carro. Sentiu-se todo poderoso! Homem que até o destino obedece. Encaminhou-se ao banco e mandou grande quantia ao Haiti.
Ao sair do banco, viu um operário sobre o prédio e quis brincar novamente com o destino. Queria que ele despencasse e o destino obedeceu! Fez grande contribuição ao Haiti, seus pecados já estavam pagos.
Passou entre as pessoas, que choravam assustadas com o acontecido e ao olhar para o lado, viu uma bailarina que dançava ao vento, como se não percebesse a tragédia. Viu o vestido leve dançando ao vento com a bailarina e ordenou ao destino que o tecido a enforcasse. O destino mais uma vez obedeceu. Pecado? Qual? Tirara apenas três vidas, mas salvara tantas no Haiti!
Voltou para casa e encontrou a empregada sorridente e cantando, enquanto labutada. Irritou-se com a voz estridente da emprega e fez um último pedido ao destino, mas não pediu direito. Queria que a casa da empregada caísse sobre ela, sem perceber que a única casa que a empregada tinha era sua própria casa.
Subiu ao quarto. Vestiu seu roupão de ceda. Acendeu seu charuto cubano. Passou seu melhor perfume. Abriu o cofre, contou o dinheiro e depois lembrou do dinheiro que enviara ao Haiti. Arrependeu-se. Fechou violentamente o cofre e sua mansão sentiu sua violência e caiu sobre a empregada...
...e sobre ele também!