CAFÉ COM SAUDADE.
Era o próprio paradoxo em forma de mulher. Ora imagem frágil de alma forte,ora forte imagem de alma fragilizada.
Havia muito se recordava do já distante passado, que parecia por vezes envolto em espessa neblina, uma espécie de FOG da alma.
Já não sabia se pelo tempo que urgia em rapidez ou se pela lentidão das entranhas para dissolver lembranças...
Saiu para caminhar como já fazia de costumeiro hábito,para ver a vida como que protegida pela vidraça/redoma que se compunha/se permitia ter.
Também como rotineiramente se deixou sentar, pediu um café e olhava o nada encontrando o tudo, ou talvez, o tudo buscando tão somente o nada.
Mas a vida essa cigana de coloridos lenços/vestes/fases/faces (re)colocou em seu caminho uma espécie de ato presente relembrando o passado.
Tinha convicção que não era surpresa se deparar com o futuro que lhe trazia o passado de volta...
...Juntou café, açúcar / afeto e saudade
revivida/requentada/reinventada, em um único instante.
Olhou e viu atravessar a rua aquele que conhecia até o vulto da alma. Coincidência ou não, ele a olhou no mesmo momento e pareceu seguir em sua trajetória, como aliás sempre havia acontecido.
Deixou nela as mesmas sensações que já conhecia.
Percebeu/perceptou/receptou outra vez o sorriso, o toque dos lábios no dorso estendido sobre o leito incandescente/velas/flores e (re)sentiu o arrepio morno da pele, o sabor do beijo e o calor do corpo suado, pulsante/ofegante e silenciando de tanto gritar prazer.
No mesmo instante, ou talvez após muitos outros segundos/minutos quem sabe até horas, o vulto silencioso dele se jogou novamente em seu campo de visão/emoção/sentido/sentimento, sorriu, acenou, olhou e apenas passou...
Passou novamente por ela, que reviveu dor/amor/canção/silêncio
prazer/sofreguidão, em tão pouco/ muito tempo.
O café esfriou pelas lembranças aquecidas, o sabor se dissipou entre as brumas da saudade palpável...
...Se levantou, pagou o que devia, apesar de não ter recebido da vida a dívida da perda de um grande amor.
Retomou a rua/rotina/passos e foi em frente, apenas se deixou caminhar, foi andando pela vida levando a alma banhada de saudades e no rosto...
... apenas seguiu sorrindo a sua dor.
Márcia Barcelos.
30/09/2010.