Que satisfação!
Que alegria podia-se ver naquela aspirante a escritora... Quanta dedicação!
Em frente ao PC se completava; seus dedos deslizavam rapidamente, por sobre o teclado, e, o dom de criação literária fluía, tal qual, às águas de uma nascente.

Como inquietava aos seus familiares, o fato de a Doroni isolar-se e, dedicar-se apaixonadamente à escrita.
Suas obras eram maravilhosas; a sua serenidade em meio às guerras no seio familiar, onde ela e, a sua paixão eram, alvos diários impressionava.
Quem poderia entender?

Havia um riso no seu semblante... Podia-se perceber o seu revestimento -uma armadura poderosa-, frente ao PC; os projéteis que lhes lançavam, não faziam efeito... Simplesmente ela não estava ali!
Quanta inspiração!

Existia uma torcida contrária, quanto ao seu almejado sucesso -dentro do próprio lar - e, muitas vezes, enquanto o marido esbravejava, e, os filhos tentavam desencorajá-la, Simplesmente, ela se fechava em seu mundo imaginário... e, criava , criava...

Ao contrário do que disse Virgínia Woolf “(...) É necessário ter quinhentas libras por ano e um quarto com fechadura na porta se vocês quiserem escrever ficção ou poesia.”

– Certamente que Virgínia Woolf se referia a um espaço físico e metafísico; à independência de obter um espaço, onde se pudesse usufruir da liberdade de ter e escrever em paz; da independência financeira para se manter nesse espaço, e quebrar os grilhões do autoritarismo e da castração, não só oriunda do machismo – sentimento que denota ódio.
Na realidade, a mulher sempre foi alvo do sexismo, e de sua peculiar característica, concernente ao favorecimento ao sexo julgado dominador, em detrimento do então - por eles - julgado frágil; da misoginia – que é a aversão a tudo quanto seja feminino.

É notória e comprovada, a dificuldade de a mulher si fazer notar, através de sua escrita. Isso, desde o século XIX, quando então, temos conhecimento da existência da “écriture féminine.” Pois, a mulher, tal qual, o ar, o vento e a camada de ozônio – são necessários, podemos dizer: vitais, porém, invisíveis para a maioria -.Mesmo em se tratando de Virgínia Woolf, tão complexa e mergulhada em sua invisibilidade; tão inconformada, com o ser e, o não ter chegado a ser... Optou, em por fim, a própria vida. Dessa forma, o ser complexo e invisível, alcançou de forma complexa e impactante a “visibilidade literária,” como de fato, hoje, se ver.

– Doroni começou a escrever, para alguns sites literários. E, assim, deu início ao fim do seu anonimato. Logo destacou-se. Em meio às dificuldades financeiras, pelas quais, a família passava, com muito esforço daqui, e, dali, conseguiu juntar um pouco, para tornar real o que tinha por sonho: a publicação do seu primeiro livro.

Pensou ter surgido a oportunidade sonhada...
Um site tido por confiável anunciou uma proposta para publicar seus escritos, em um CD livro. Vantagens e, mais vantagens; divulgações e, tantas outras promessas que, fizeram o coração de Doroni pulsar forte, e os seus olhos ganhar aquele brilho, de quem poderia enfim, realizar o início de um grande sonho, e, mostrar a torcida contrária, que vale a pena perseverar... Confiar!

Para quem economizou e juntou durante tanto tempo,o necessário para a quitação doplanejado, com esforço, realmente se tratava de uma pequena fortuna.
Quantas coisas ficaram para trás; privou-se de tantas coisas... abriu mão de outras tantas, economizando sempre, a cada dia.

A família gritou:
– Você vai depositar dinheiro para os outros? Sem nenhuma garantia? Sem um contrato ou recibo? Nós aqui precisando pagar às contas... e, você colocando suas economias nas mãos de quem não conhece? Vão fazer-te de tola mulher!
Quantos concursos, quantas taxas, quanto dinheiro a escoar pelo ralo!

– Eu preciso acreditar, Rafael! Eu preciso tentar!
– Pelo menos tenha sabedoria: Fotografe tudo que você puder: o histórico do MSN onde você acertou com o dito site, o preço cobrado, e-mails que você enviou, e, recebeu; extrato bancário com os dados e data bem visíveis e tudo o mais. Até mesmo às promessas através de mensagens, faça uma pasta, mulher! FOTOGRAFE!
Não seja boba!

–Está certo Rafael. Vou me cuidar, vou fazer assim mesmo, como dizes.

–Assim, foi feito!
Doroni se precaveu... e, viu que Rafael estava certo.

Ela  esperou que, o site cumprisse o  acordo, em vão. Nada fez...Poderia ter tomado decisões sérias, o esposo a alertou; ela tinha comprovantes, porém, deixou que a vida ensinasse àquela administradora do site...E, ensinou!

O site saiu do ar.A quantia que a Doroni e outros, perderam; que lhes foi tirada do bolso,ou, da bolsa ,descaradamente, pesou muito na vida, de quem não foi digna, sequer de avisar aos membros do site de que o mesmo sairia do ar - oportunidade, para que, o material de cada um deles fosse retirado.

Ações absurdas e indignas. 

Doroni foi duplamente recompensada,através de confiáveis que surgiram em sua vida – felizmente existem!

A melhor justiça é a exercida por Deus, quem poderá dela escapar?
Afinal de contas é preciso acreditar!



EstherRogessi, Conto: Preciso Acreditar! 25/04/10. Categoria: Narrativa.Imagem Web.

EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 30/09/2010
Reeditado em 15/02/2013
Código do texto: T2530356
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