A água da botija

A ÁGUA DA BOTIJA

Dona Guilhermina era uma senhora que já passava dos seus oitenta anos. Vivia na casa de sua nora Rozita. Quando o tempo esfriava, a nona empuleirava em cima de um fogão de lenha, feito um filhote de passarinho, que quer tudo no bico. Assim, a muquirana vivia a mascar fumo e cuspir no chão da cozinha. À toda hora queria isso, queria aquilo: um mingauzinho de fubá, uma carninha cozida para mascar.
Mas o que D. Guilhermina gostava mesmo era de tomar água no botijão de barro que ficava bem no canto da cozinha, com água bem fresquinha, às vezes com a boca destampada. O dia que faltava água no botijão, a nona fazia pirraça e ficava com sede o dia todo.
- Por que a senhora só quer tomar água daquele botijão, que nem é filtrada? – implicou sua nora Rozita.
- Rozita, esta água tem um gostinho “tão bão”. Num consigo beber outra. Só quero da água do botijão. Num adianta, falou a nona.
Os tempos foram passando. A nora já não suportava mais a teimosia da sogra de só tomar água daquela bendita vasilha.
Os botijões usados daquela época serviam como reservatório, para posteriormente, passar a água para o filtro de barro. Tinha um pescoço muito fino, o que dificultava uma limpeza rigorosa no seu interior. Assim, aquele depósito d’água tão precioso ficava ali, sem sofrer uma revisão periódica.
Rozita fazia um esforço danado para não brigar com sua sogra. Mas a história sempre repetia. Dessa forma, bolou um plano para ficar livre das exigências da sogra, dar um sumiço no botijão, quebrá-lo ou, quem sabe, juntando as coisas... e mais alguma coisa.
Esperou mais uns dias e colocou o plano em ação.
- D. Guilhermina, hoje precisamos fazer uma limpeza nesse botijão. Afinal, faz tanto tempo que ele não é lavado. – Falou a Rozita.
Lá de cima do fogão, a nona concordou, mas ficou de olho nos movimentos de sua nora.
Rozita pegou o botijão e começou a lavá-lo, por dentro e por fora. Dado momento, quando tentava colocá-lo no tamborete. a vasilha escorregou de sua mão batendo no piso da cozinha, espatifando. Enquanto isso, Rozita observava as reações da sogra, sentada no fogão. Nisso, os olhos da velha arregalaram. Desceu do fogão, apontou para uma coisa escura misturada com água e cacos de cerâmica que pulava e coachava.
- Rozita, Rozita, olha ali... uma sap... sapão cururu, estava dentro da botija. Eu, eu estava tomando água de sapo esse tempo todo? – Exclamou a velha.
Rozita, com um sorriso entre os dentes, comentou:
- Era por isso que a água tinha um gostinho “tão bão”, não é D. Guilhermina?
D. Guilhermina não mais quis beber da água do botijão e Rozita ficou livre da fixação da sogra.




 
ateleszimerer
Enviado por ateleszimerer em 25/09/2010
Reeditado em 09/08/2013
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