Marcio era engenheiro, tinha um bom emprego numa multinacional, querido pelos colegas, tinha uma esposa que o amava e dois filhos.
Marília, sua amiga de Faculdade, também engenheira, trabalhava na mesma empresa .
De uns tempos para cá ela vinha notando que Marcio estava meio estranho. Recebia telefonemas pelo celular e saía da sala para atender.
Em que estaria metido? Teria uma amante? Estaria com algum problema financeiro? Andaria metido em alguma encrenca?
Embora fossem amigos, ela não tinha intimidade suficiente para poder lhe interrogar. Resolveu conversar com Marilene, sua esposa, para saber como andava a vida deles. Discretamente convidou-a para almoçar, com a desculpa de que queria comemorar seu aniversário, já que não tinha podido ir ao jantar surpresa para o qual havia sido convidada por Marcio.
Encontraram-se na semana seguinte. Conversaram sobre vários temas até que Marília conseguiu entrar no assunto.
Como vai a vida? Vocês têm saído muito? Afinal é sempre bom para um casal, casado há tantos anos, diversificar a programação para animar mais a vida, não é mesmo?
- É... nós temos saído muito. Marcio sempre convida um amigo, o Carlos, - você conhece? - para nos acompanhar. Parece que ele está separado da esposa e anda meio perdido. Até pensei em chamar você também para fazer-lhe companhia.
- Ótimo, estou sozinha no momento e até que seria bom conhecer sangue novo.
Como ele é?
- Simpático, inteligente, boa situação financeira, atencioso, belo físico.
- Fechado! Pode marcar.
Marilene armou um jantar para os 4, com esperanças de ver a amiga em boa companhia.
Ele se portou maravilhosamente e Marília ficou de encontrá-lo na próxima semana, para um teatro. Marcio criticou a esposa por ser alcoviteira.
Depois desse dia Marcio ficou muito mal-humorado, brigando com as crianças por nada, batendo portas e sendo indelicado com a esposa, coisa que não era normal.
Marilene era uma mulher inteligente, sensível e bonita. Não tinha a mínima vocação para mártir. Pegou a bolsa e saiu para não ter que aturar o mau-humor do marido. Quando voltou o encontrou dormindo.
No dia seguinte Marcio saiu cedo para o trabalho e não ligou para casa no meio do dia, como costumava fazer. As horas se passaram e ele não voltou. Marilene adormeceu no sofá e só acordou no dia seguinte. Nenhum vestígio do marido. Ligou para o trabalho dele e ele não havia aparecido. Começou a ficar preocupada. Ligou para os hospitais e necrotérios e ninguém sabia. Foi até o trabalho dele e o chefe resolveu abrir as gavetas dele para ver se descobria alguma coisa que pudesse ajudar a saber do paradeiro de Marcio. Começou a ler papéis, abrir pastas e envelopes até que encontrou um de fotos dele com o amigo Carlos...aos beijos.
Um dos colegas do escritório, vendo o desespero de todos à procura do colega, resolveu abrir a boca e contar tudo.
- Senhores, não se preocupem. Ele foi para a Argentina com o Carlos, namorado dele.
Marilene sentou-se, pediu um copo d’água e desabafou: bem que eu andava desconfiada de que alguma coisa estranha estava acontecendo com ele. Ultimamente ele me pedia para realizar a fantasia dele de se vestir com a minha camisola rendada. Eu achava uma excentricidade, mas não cheguei a achar nada anormal. Sei de pessoas que têm a cabeça meio louca, embora sejam normais.
Que ele seja feliz. Assim que souber do endereço dele eu mando a camisola rendada.
Edina Bravo