UM ETERNO PENSAR

UM ETERNO PENSAR

Sonia Barbosa Baptista

(Conto)

No vagar dos pensamentos, um dia, eu pude buscar no meio da escuridão a luz e nas verdes matas a energia necessária, para uma respiração saudável.

Também pude sorrir levando um pouco de alegria a quem por carência necessitava, e não esquecia daqueles desprovidos de toda sorte.

Hoje, suja, sentada na calçada sempre no mesmo lugar, sem entender nada.

E sem entender a vida, vejo:

Os faróis dos carros na noite, ouço o apito do trem que vai longe, rasgando o silêncio, abafando o ronco do meu estômago na madrugada, e acorda meu corpo parasita.

O barulho das lojas abrindo suas portas, enfim todo o comércio começando suas atividades diárias.

Os passos das pessoas apressadas demonstrando estarem cheias de energia.

O cheiro do café nas padarias, na nova manhã de primavera.

De olhos fechados, busco no pensamento, uma xícara de café meio amargo, quente e sorvo o primeiro gole.

Mas na ânsia de sentir o paladar, acordo a tosse, a mesma que durante a noite não me larga.

E com a mão na testa, segurando o peso da cabeça, os dedos massageando os cabelos perto da testa, como se mãos de fadas me acariciassem.

Então, agradeço pela noite, por mais a manhã, pelos bons pensamentos e pelo estômago vazio porém, o coração cheio de esperanças de poder ter sempre na lembrança o tempo em que eu era gente, digna de sorrisos, de apertos de mãos, de ter casa e nela uma mesa de café da manhã, com bolo que era a minha paixão.

Ah, meu Deus.

Minha boca saliva só de lembrar daquela fatia de bolo com sabor de manteiga.

Ah! Eu era feliz e não sabia.

Hora de caminhar. Recolho minha cama de papelão e uma coberta, que numa das noites frias uma alma caridosa cobriu-me, enquanto eu tremendo só conseguia gemer.

Não preciso me preocupar em trancar portas e janelas, já que minha casa é ao relento.

Dou os primeiros passos e penso:

Minha vida se transformou num eterno pensar.

Então penso: O que será de mim hoje?

E caminhando continuo pensando, mas dessa vez questionando no que sou diferente.

Pois se o sol, o vento, a chuva, o dia e a noite são para todos, então também são para mim.

Nesse mesmo dia me olhando inteira, notei que era diferente.

As roupas sujas e cheirando mal, meus cabelos sempre presos estavam ensebados, as unhas das mãos e dos pés um horror, tudo em mim cheirava mal.

Percebi quando me vi refletida nas águas da fonte luminosa da pracinha, a que eu sempre mantinha distância.

Senti meu rosto queimar, a vergonha se apossou de mim e novamente pensei:

Meu Deus, o que fiz da minha vida?

Preciso urgente de um banho.

Mal acabei de ter esse pensamento e alguém malvado me empurrou na água da fonte da praça e senti tanto frio que chorei, chorei muito mas ninguém percebeu.

Por sorte fui jogada na água, e não queimada enquanto dormia.

Ouvi um barulho na água, era um sabonete que alguém jogou.

Pouco depois saí dali de banho tomado, nada cheirosa pois apenas um banho não seria suficiente pra me deixar limpa.

Sentei no banco da praça, as roupas eram as mesmas e molhadas...

Mas essa situação não me levou a pensar como de costume.

Acordou-me a mente... Era hora de agir.

Com coragem voltei para a minha casa, onde eu era querida e de onde eu nunca devia ter saído, pois fiquei sabendo que meu desaparecimento causou doenças e muitas tristezas.

Por uns meses fiquei ainda em estado de apatia...

Mas hoje graças a Deus estou normal.

Penso que sim, já que estou novamente pensando.

VOLTANDO ATRÁS..

Acredito que tudo não passou de sonho, às vezes pesadelo...

Mas descobri que a vida é boa, é linda e só depende de cada um ter fé e buscar melhorar, pois nem sempre o caminho certo é o caminho reto.

Pois as dificuldades são como as curvas e morros que temos que percorrer para chegar onde queremos.

Viver é uma forma de amar o Criador.

17/09/2010

Sonia Barbosa Baptista
Enviado por Sonia Barbosa Baptista em 24/09/2010
Reeditado em 24/09/2010
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