MANIA

Margô tem mania de falar sozinha:

- Depois do almoço vou descansar e depois lavar roupa. Enquanto elas quaram, vou bordar um pouco. Ô meu Deus, que falta me faz o Nilton! Tem trinta e dois dias que ele está viajando com o caminhão. Se ele ganhasse bem até me conformava. Mas o que ganha mal dá para as despesas. Não, eu não quero mais reclamar da vida. Tem gente pior do que eu neste mundo.

No outro dia, passando o pano molhado no chão da sala:

- Como é que eu vou fazer com a minha vizinha? Todo o santo dia, ela vem com aquela caneca esmaltada me pedir uma coisa emprestada. Uma hora é açúcar, sal, óleo, arroz e até pó de café. Nilton já me proibiu de lhe emprestar. Que emprestar que nada! Proibiu de dar, porque aquela lá não paga a ninguém! Será que ela não sabe que o meu marido ganha pouco e que os meus bordados quase não dão lucro? Na hora em que ela chegar aqui, com aquela canequinha na mão, vou abrir o verbo: olha aqui minha filha, não venha mais me pedir nada, porque não vou te emprestar mais. Vê se me esquece. Está pensando que estamos nadando no dinheiro, igual o Tio Patinhas? Se, pelo menos, você devolvesse o que pega aqui em casa...

Ainda, conversando sozinha, a dona de casa foi trocar a água do balde:

- Uai!!! Você está aí?! Não te vi na janela! Você chegou, agora, não é?

- Não. Faz um tempão que estou aqui.

- Nossa!!! É mesmo?! Então, deixe a caneca aí e entre!

- Hoje, eu não posso.

- Por quê?

- Porque ainda tenho que fazer o almoço.