HISTÓRIA DE UMA VELHA GOIABEIRA
História de uma velha goiabeira
Ela é um dos marcos de minha infância, pois ali nos fundos de nossa casa, assistia de pé tudo o que se passava na área e na cozinha. De uma das janelas da área eu podia vê-la sempre feliz com seus galhos carregados de folhas, de flores e de frutos.
Era uma promessa de árvore quando minha família se mudou para aquela casa, com o passar dos anos ela foi ficando encorpada e mais alta. Meus irmãos adoravam subir nos seus galhos, pois de lá podiam espiar o que se passava na rua. Minha mãe trancava o portão e não deixava as crianças brincar na rua.
Eu usava um velho lençol, ou um pedaço velho de lona de caminhão, colocava entre seus galhos mais baixos e amarrava as pontas com barbante. Fazia uma cobertura que para mim se transformava em palácio, castelo, casa. Aos domingos era uma delícia, eu ficava com meu irmão mais velho e minha prima brincando. E a goiabeira ali de cima nos espiando, sem reclamar. Era nossa amiga.
Seus frutos eram verdadeiras bênçãos, que nos rendiam uns bons trocados e maravilhosos doces. Era uma árvore muito especial. Não me lembro de ter comido uma goiaba bichada.
No verão meu irmão mais velho recolhia as maiores, montava uma banquinha na esquina da rua, e em menos de meia hora, vendia todas, e voltava sorrindo para casa.
Certa manhã estávamos brincando no quintal e o meu irmão do meio, resolveu brincar de Tarzãn amarrou uma corda em um galho bem fraquinho da goiabeira e só escutamos o grito dele morrer no meio: - TAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR.... o resto ele nem pronunciou foi direto ao chão. Abriu a cabeça e era sangue para tudo quanto era lado. Minha mãe não estava em casa, assustados chamamos a vizinha da casa ao lado. Ela veio prontamente e providenciou um curativo rápido. Não demorou meia hora minha mãe, entrou e saiu de casa com meu irmão rumo ao hospital para suturar o corte.
Tive uma infância feliz, privilégio de poucos. Brinquei, subi em árvores, andei descalça, tinha muitos animais de estimação e aprendi a venerar as árvores em especial.
Nesta data, deixo meu testemunho de um tempo e um estilo de vida que além de muito saudável, acredito estar em extinção. As crianças já não dispõem de tanto espaço para brincar livremente.
Tem trinta e tantos anos que mudamos de lá, e não pisei mais naquele quintal. Quando vou lá para os lados de Madureira e passo pela rua que morei, ainda posso ver seus galhos bem altos nos fundos da velha casa. Acredito que seja a mesma árvore. Me lembro que eu meu irmão gravamos as iniciais de nosso nome no seu tronco. Nem sei se ainda estão lá, ela sim, está aqui guardada em meu coração.