A Máquina De Fazer Dinheiro
Quando criança, meu pai me deu uma tremenda noticia: “Vou construir para você uma maquina de fazer dinheiro!”
Nunca fiquei tão eufórico aguardando um presente. Ainda mais um presente como este, com o qual eu poderia ter todos os presentes que poderia sonhar.
Fiz uma lista de tudo que eu desejava:
- um forte apache;
- um capacete e binóculo de guerra (de plástico, é claro!);
- uma bicicleta tigrão (se você não é do meu tempo, não vai conhecer, pois esta era a bicicleta mais bonita já fabricada no Brasil. Era estilo chopper, rodas pequenas na frente e grande atrás, guidão em “U” e banco com apoio para as costas imitando pele de tigre, parecia uma Harley Dawidson);
- papel para fabricar mais de cem pipas;
- rolemãs para fazer mais de dez trolinhos;
- óculos de aviador;
- cinco pares de ki-chutes novos;
- duas bolas de capotão;
- um conjunto Cisco Kid, em que vinha um chapéu de cowboy, uma estrela de xerife, cinto com coldre e revólver de espoleta.
E fui aumentando a lista conforme aumentava minha lembrança do interior da Guaracy (maior loja de brinquedos de minha cidade).
Fui contar a todos os meus amigos sobre a grande invenção em que meu pai estava trabalhando, e que funcionava basicamente assim: era uma máquina na qual você colocava papel e revistas velhas de um lado, tocava uma manivela, e saía notas novinhas de cinco cruzeiros do outro lado.
Todos ficaram boquiabertos e com os olhos inchados de inveja.
Enquanto aguardava, quase não me continha de tanta alegria. Observava de longe, lá no fundo do quintal, meu pai serrando, martelando, lixando e pintando.
Um dia então ele me chama e diz:
“Pronto! aqui está sua maquina de fazer dinheiro! Com um pouquinho de habilidade e esforço você poderá fazer muito dinheiro com ela.”
Ele abriu uma tampa, colocou dentro dela duas escovas e duas latinhas de cera, uma preta e outra marrom, e me entregou.
Era uma caixa de engraxate!!!
Confesso que na época minha tristeza só foi superada pela minha frustração. Mas hoje entendo que este foi um dos melhores presentes que meu pai poderia ter me dado. Pois aprendi que o valor dos objetos não é seu preço, mas que o verdadeiro valor está no sacrifício e no modo como os conquistamos.
E que Deus não nos dá aquilo que queremos, porém, aquilo que precisamos.
Alexandre Barbado.