A cartomante me disse

I

Quando percebi, finalmente, que o Edu não queria mais nada comigo, resolvi tomar uma atitude drástica: fui consultar uma cartomante. Escolhi ao acaso a Madame Ágata. Encontrei um folhetinho em uma parada de ônibus que dizia assim: trago seu amor em 7 dias. Era tudo o que eu precisava. Rapidez e eficiência. Minha vida não era mais a mesma sem o amor do Edu.

Consegui um horário rapidinho e sem falar para ninguém, fui consultar Madame Ágata. O lugar não tinha nada de esotérico. Muito menos a própria. Era um apartamento simples, onde a cozinha era o local da consulta. Então, em meio a um fogão, geladeira, pia e panelas, Madame Ágata começou a tirar a minha sorte.

Primeiro ela pediu que eu cortasse as cartas em três e em seguida começou a virar uma por uma. Eu, de respiração suspensa, não tirava meus olhos da mulher.

- Você está aqui por causa de um homem.

Epa! A cartomante era das boas.

- Sim, por causa do meu namorado. Quer dizer, meu ex-namorado. Ele me deixou.

- Aqui está marcando outra pessoa. Uma loira.

Eu sabia! Era a Cris! Nunca acreditei naquele papinho do Edu que queria ter mais tempo para ele. Mentiroso!

- E ele está bem apaixonado por esta mulher - confirmou a Madame.

Meu chão se abriu. Não era possível. Aquela loira vadia tinha conseguido roubar meu Edu.

- Ela lançou uns feitiços sobre ele - assegurou Madame Ágata, com toda sua convicção.

- E agora?! - perguntei, agarrada na minha bolsa - Quer dizer que eu o perdi para sempre?

- Não, claro que não. Um trabalhinho simples e você consegue reconquistar seu amor.

- Trabalhinho... que tipo de trabalhinho?

- Você pega uma cueca dele, usada, e cozinha em água fervente. Depois espreme toda a água e lambuza de mel. Junta uma calcinha sua...

- Usada também?

- Claro que sim. Tem que ser usada para o efeito permanecer para o resto da sua vida. Bem, você junta sua calcinha com a cueca dele. Esfrega as duas peças para o mel grudar, entendeu? Aí você dorme com a calcinha e a cueca debaixo do travesseiro por sete dias. Passado este tempo, você joga na natureza.

- Na natureza?

- Jardim, matinho, qualquer coisa que tenha verde.

- Tão simples assim? Bom, eu tenho uma cueca do Edu lá em casa... só falta comprar o mel.

- Ah, mas não é qualquer mel.

- Como assim?

- Somente o mel que eu vendo faz efeito. É um mel poderoso, um pouco caro, mas é porque que vem de Roma, do Templo do Amor. Você conhece?

- Bem, eu...

- Todas minhas clientes que fizeram este trabalhinho estão casadas e felizes com seus homens. Nunca deu errado.

- Quanto custa o mel mesmo?

II

Fiz exatamente como Madame Ágata me disse. A cueca do Edu junto com a minha a calcinha, ambas pegajosas de tanto mel, era um troço meio nojento. Mas não havia jeito. Forrei meu travesseiro com uma toalha usada e dormi em cima daquilo as sete noites seguintes. E foram noites em que tive sonhos maravilhosos com o Edu. Devia ser o feitiço que estava dando certo.

No oitavo dia acordei confiante e despejei a macumba no cantinho do jardim do meu prédio, em um lugar bem discreto. E fui trabalhar, acreditando que Madame Ágata mandaria meu amor de volta.

Um pouco antes do meio dia, meu celular tocou. O visor me mostrou que era o número do Edu. Quase dei um berro de felicidade. Sim, a cartomante era mesmo das boas! Pensei em recomendá-la para todas as minhas amigas carentes. Atendi ao celular, fazendo-me um pouco de mulher difícil:

- Alô? Quem? Ah, é você, Edu? Como estão as coisas?

- Oi, Sabrina. Eu vou bem. E você?

Achei a voz dele meio esquisita para quem queria reatar o relacionamento. Respondi:

- Cada dia melhor. Você me ligou para que mesmo?

- Quero saber quando minha irmã pode ir até sua casa buscar aquela cueca vermelha que deixei lá, faz mais ou menos um mês. Lembra qual é?

Era a cueca da macumba. Eu nem acreditei no que estava ouvindo. O infeliz queria a cueca. Seria ela de estimação?

- Eu entendi? - perguntei, levantando o tom de voz - Você quer de volta uma cueca usada?

Meus colegas fingiram não escutar nada. E eu queria muito esganar a Madame Ágata.

- Eu quero. Ela é minha, não é? E aquela cueca é confortável, não aperta e...

- Para seu conhecimento, Eduardo, tenho que lhe dizer uma coisa. A sua cueca vermelha não está mais comigo.

- Como assim? - ele estranhou - Não vai me dizer que você está usando de pano de chão ou deu pro cachorro?

- Jamais que eu deixaria o Rex usar qualquer peça sua, entendeu bem?

Surtei. Continuei falando, esquecida que eu estava no meu local de trabalho.

- Quer saber o que eu fiz com aquele pedaço ordinário de pano? Um feitiço para que você morresse! Mas pelo visto, joguei meu dinheiro no lixo, pois você está bem vivo e me importunando com coisas inúteis! Eduardo, vá se... vá se catar!

Desliguei o celular e me deparei com meus colegas me encarando. De repente, uma das meninas começou a me aplaudir. Em seguida, mais outra. Em cinco segundos, eu estava sendo aplaudida com urros de "bravo". Até me senti bem, confesso. Nunca nenhum namoro meu terminou sob uma salva de palmas.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 20/09/2010
Código do texto: T2509302