Morreu Farina!

- Farina Morreu.

- De morte morrida ou de morte matada?

- Morte matada.

- Coitado!

- Cadê ele?

- Tá lá, encostado na porteira...

A conversa marido e mulher se passava naquela manhã seca de inverno, na cozinha da fazenda. Uma área considerável, com o seu tradicional fogão de lenha, umas lingüiças penduradas, em processo de defumação, uma mesa de pura madeira, oito cadeiras postas, três de cada lado maior e duas nas extremidades. Era o ambiente daquele diálogo matinal.

Farina nascera numa véspera de natal e seu nome veio do personagem de Paulo Goulart da novela Esperança, em que interpretava o vilão Farina.

- Ele vai fazer muita falta! - dizia o “seu” Juca.

- O tanto que ele nos ajudou!..., exclamava a “dona” Judite.

Farina tinha quatro irmãos e viveu pelo menos um terço da vida, levando-se em conta a média geral. Tinha um bom porte, seu crescimento foi dentro da normalidade, alimentava-se bem, comendo de tudo, saúde perfeita e demonstrava ser amigo de todos, pelas brincadeiras que empreendia e muita capacidade de trabalho. Preguiça não era com ele. Não havia domingo, feriado e férias que pudessem parar as suas atividades. E olha, que ele não reclamava de nada.

Farina era um grande ajudante do “seu” Juca, encaminhando as vacas leiteiras para o curral em todas as manhãs e, na hora certa, apartava o gado, sem falar nos seus serviços como excelente companhia para o casal de aposentados, que se sentia em perfeita segurança com ele por perto.

- Ele não fez nada prá ter um fim tão triste! - lamentava “dona” Judite.

- No mundo de hoje acontece de tudo - entristecia o “seu” Juca, de muitos janeiros e experiência ao longo dos seus quase oitenta anos.

Estirado junto à velha porteira, naquela estradinha poeirenta, estava Farina. Nenhuma pista do autor ou autores dos disparos. Ninguém podia fazer mais nada.

Farina tinha uma mistura de raças, próxima a um Fila, que são cães de guarda e boiadeiro e deixou o pai Sadan e os irmãos Toquinho, Rabicó, Trabanda e Mirinda.