BICHINHO DE PELÚCIA

BICHINHO DE PELÚCIA

Acordei assustada com o barulho. Olhei em volta, no meio da escuridão, não pude ver o que se passava. Estava ainda com sono, virei para o outro lado e continuei minha imersão. Quando os primeiros raios do sol penetram pela cortina, acordei. Levantei-me, calcei os chinelos e saí andando, levei um tropeção, só não caí porque me segurei no armário com a mão esquerda, enquanto olhava para o chão, surpresa. Abaixei-me e peguei o bichicho de pelúcia de minha filha. Ele me fitou com seus olhos castanho escuros e profundos. Num ato instintivo, abraçei-o fortemente de encontro ao peito, e senti o cheirinho de minha filha. Ela estava tão distante naquele momento, tão longe. Imediatamente vieram a minha mente todas as recordações da minha Déia querida, sua infância, seus brinquedos, suas travessuras, as cantigas que ela cantava para o vento. Senti um aperto forte no coração, olhei para o Popoto (este era o nome do macaquinho de pelúcia que caíra ao chão). Fui até o outro lado do quarto e vi que a porta do armário estava aberta e as roupas de cama todas caídas e espalhadas pelo chão.

- Popoto, você amanheceu fazendo bagunça! Está procurando a Déia para brincar? Sabe ela hoje não vem te buscar, está muito longe daqui, depois agora tem a Duda para ela cuidar, fica difícil. Você vai entender, não? Já sei você está cansado de ficar trancado no armário, vou te deixar do lado de fora, e colocá-lo com os outros brinquedos, para matar as saudades da Déia, tudo bem?

Lá pela metade da manhã, reuni todos os brinquedos da Déia, que ela tinha deixado. Encontrei o pianinho vermelho, a máquina de lavar, o liquificador (este ela tinha verdadeira paixão pois tinha sido a verdadeira mãe que tinha dado), duas bonecas, uma estava sem cabeça e sem uma perna, enfim coloquei tudo para fora da enorme caixa. E os deixei em cima da cama. Fui para a cozinha preparar o almoço. Quando no silêncio que reinava, escutei uma música velha conhecida. Corri até o quarto e ouvi a música vinha do pianinho. Fiquei intrigada, pois já tinha algum tempo que eu havia deixado o quarto, isto significava que o pianinho estava tocando sozinho.

Cruzes! Pensei, está acontecendo alguma coisa estranha, primeiro o Popoto pulou para fora do armário, agora o pianinho toca sozinho. Voltei para a cozinha, disposta a fazer uma conferência com minhas panelas. O pianinho ainda tocou algumas vezes e depois parou. Minha mãe e meu irmão chegaram para almoçar. Quando eu estava aprontando a mesa, antes mesmo que eu lhes contasse o que tinha acontecido, eles ficaram surpresos, pois o pianinho começou a tocar. Meu irmão olhou para mim, e perguntou meio surpreso: - A Déia está aqui?

Eu balancei a cabeça negativamente, ele correu para o quarto, seguido de minha mãe e eu. E ouviu o pianinho tocar todas as musiquinhas preferidas da Déia.

Voltamos para a cozinha sem saber o que realmente estava acontecendo. No meio do almoço fomos interrompidos pelo toque insistente do telefone. Atendi, ouvi uma voz fraca do outro lado da linha: - Mãe? Eu estou muito mal, vou ser operada, agora? Estou na maca indo para o centro cirúrgico. Reza para eu ficar boa. Enquanto isso, o celular do meu irmão tocara e ele atendera, pelo que pude perceber antes que a Déia desligasse, meu irmão falava com o marido dela.

A Déia fez uma cirurgia de emergência, retirou o apêndice. E está se recuperando, no pequeno hospital da cidade onde mora com seu marido e a Duda sua filhinha. O Popoto e os outros brinquedos estão aqui do lado de fora, aguardando com o resto da família a recuperação dela.

Na madrugada que o Popoto saiu do armário, a Déia teve uma crise aguda e quase morreu antes de ser operada, o marido dela ficou tão desorientado em socorrê-la, e cuidar da Duda com apenas dois anos, que não teve nem tempo de nos avisar. Ela entrou em desespero pois urrava de dor, depois foi sedada e passou por uma soneca. Durante a soneca, ela me contou que voltara a ser criança e estava aqui em casa, brincando com o Popoto e seus outros brinquedos.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 19/09/2010
Código do texto: T2507128
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