Homeless

Max, esse era o seu nome e definitivamente não estava esperando nada de bom naquele dia que estava começando. Como já sabia que iria acontecer grossas palavras seriam atacadas sobre ele, muitas vezes palavras que machucariam mais que pedras. Acostumar não acostuma, acredito que ninguém se acostuma a sofrer, apenas suporta. E era isso que Max fazia todos os dias, apenas suportava a indiferença dos seres humanos quando passavam por ele. Resmungando algumas palavras pra si mesmo, fazia com que as pessoas o considerassem louco, mas talvez ele não fosse, talvez.

A claridade e o barulho da avenida fizeram com que ele abrisse os olhos pesados de sono e começasse a acordar aos poucos naquele chão gélido. O sol estava tímido, tentara por muitas vezes aparecer deslumbrante naquele céu de setembro, porém acabara voltando para trás das nuvens cinzentas, fazendo com que o reflexo nelas machucasse os olhos de quem acabara de acordar. Ele resolvera levantar-se daquele papelão rasgado, - somente deitava naquele chão sujo, gelado e duro para dormir porque não tinha alternativa - aos poucos colocava-se de pé, tinha o joelho ralado e os pés sujos, as mãos calejadas e amareladas por conta do cigarro, mas se prestássemos atenção veríamos que através dos olhos daquele rapaz transparecia a tristeza, a dor, o abandono, e a fome. Ah, a fome! Algo horrível de sentir, porém, a fome do rapaz não era apenas de alimento, era fome de carinho, amor, proteção, algo com o que ele convive e sente muita falta. Estando de pé, começara a juntar suas tralhas e amarrá-las em um pano velho desbotado, que um dia já fora vermelho mas que agora está marrom. Fazendo isso, começou mais uma vez a andar sem rumo certo pelas ruas daquela cidade que ele já conhecia de ponta à ponta.

Já era no período da tarde quando a fome apertara de verdade e o estômago começava a revirar seu próprio vazio. Resolveu parar em uma calçada e descansar os pés descalços que já estavam calejados. Max pedia a alguns vultos que passavam um pouco de caridade e desse à ele o que comer, por mais que não pareça, penso que é tão humilhante para eles tanto quanto para nós ficar pedindo esmolas na rua, e ouvindo como resposta um "Vá a merda", "Não tenho", "Vai trabalhar", e isso era uma das coisas que mais acontecia, entretanto, existem ainda algumas almas caridosas que se comovem e entregam-lhe algo. Algumas horas depois, já com o estômago revirado e dores de cabeça causada pela fome, ele resolveu contar o dinheiro que havia conseguido e alegrou-se ao ver que naquele dia ele tinha conseguido um pouco mais que no outro. Resolveu ir comprar algo para comer.

Naquele caminho tortuoso que ele trilhava, percebia olhares sinuosos em sua direção, olhares de pessoas que sentiam repugnância ao vê-lo todo sujo, com barba pra fazer, e cabelos sebosos jogados na cara, contudo, já suportara isso e não se importava muito, mas ainda assim sentia-se um pouco incomodado com aquela situação. Você provavelmente já deve ter se perguntado como ele foi parar na rua e ficado nessa situação, por enquanto eu posso lhe dizer que essa é uma pergunta sem resposta, afinal, nem Max sabe como e porque ele está vivendo nessas condições, ele não tem lembrança, não tem um sentimento certo, ele é um homem sem memória.

Rodrigo Carvalho
Enviado por Rodrigo Carvalho em 14/09/2010
Código do texto: T2498592
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