MEU CONCURSO DE MISS

Faz duas décadas... Éramos doze garotas, todas na faixa dos 15, 16 anos. Nossos sonhos eram os mais grandiosos possíveis. A palavra " fracasso" simplesmente não existia em nossas mentes adolescentes. Eu e mais onze meninas disputávamos um título de beleza, na praia. Queríamos nos tornar misses, sermos as mais belas, as mais desejadas. Porém, apenas uma teria a felicidade de desfilar com a faixa no peito e com a coroa na cabeça. Sinceramente, eu tinha a mais absoluta certeza de que seria a escolhida.

Não que fosse uma grande coisa, agora eu sei. Aspirávamos ao título de "Rainha do Sol". A praia, em si, nem era uma maravilha, embora bastante frequentada. Eu passava meus verões naquele lugar desde bebê, portanto, achava que o título só poderia ser meu e de mais ninguém. A glória, por direito, já era minha e ponto final. Disputar minha tão aludida beleza com outras garotas era apenas mera formalidade para receber a faixa. Naquela idade, não apenas eu, mas todas as outras minhas concorrentes acreditávamos que seríamos famosas por causa das nossas aparências físicas. Era só estar no lugar certo, na hora certa.

Quem patrocinava o evento anual era a Associação dos Moradores da Praia do Mar Azul e já havia quem dissesse que aquele concurso de beleza estava ultrapassado e decadente. Mas não para nós, doze garotas iludidas e deslumbradas. Lembro que desfilei por aquela passarela sentindo-me uma princesa a deslizar ante um corpo de jurados que me assistiu com olhar entediado. As palmas que escutei pareceram que eram mais fortes para mim do que para qualquer outra das meninas. Aliás, EU era a mais bonita. O sonho da fama e do estrelato sempre me acompanharam desde que me conheço por gente

No camarim destinado a nós enquanto aguardávamos as decisões dos jurados, não havia espaço para amizade ou qualquer outro tipo de camaradagem. Éramos garotas ensandecidas, disputando, com unhas e dentes, um título insignificante e que - ai de quem dissesse isto naquele tempo - não mudaria em nada nossas vidinhas.

Com riqueza de detalhes, lembro o exato momento em que descobri, em plena passarela e sob os olhares de todos, que nem entre as três finalistas eu havia conseguido ficar. Foi um choque. Meu mundo caiu e fiquei devastada ao constatar que aquelas pessoas não me consideravam bonita. Sim, eu não era digna de um título de beleza de uma praia qualquer. Resumindo, eu era uma pessoa comum.

Fui embora antes da festa acabar e chorei por três dias seguidos. Não demorou muito para que eu descobrisse que aquela tão sonhada faixa não me levaria a lugar nenhum. A primeira colocada, eu soube pouco tempo depois, continuou levando sua vida vazia e sem futuro, grávida que ficou de um namorado que a abandonou. As outras não sei que fim levaram e nem nunca mais ouvi falar mas, pelo visto, não tiveram sorte diferente. E eu continuo ralando das 9 às 5, sonhando com a glória e o sucesso, a cada banheiro que eu passo limpando, todos os dias.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 14/09/2010
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