Um conto verdadeiro

Há muitos e muitos anos atrás, num bairro tranquilo de uma cidade de São Paulo, em pleno início de primavera, nascia à primeira filha de um casal. Eles eram muito pobres e, na ocasião, residiam na casa de uma irmã do chefe de família. A mãe deu à luz mais cinco filhos, sendo que dois deles faleceram ao nascer. Desde cedo, essa menina demonstrou grande vontade de estudar e mudar a sua condição de vida. E assim, com seis anos de idade, ela começou a estudar na primeira série do primário, atualmente 1.ª série do 1.º grau. Concluiu o primeiro ano e foi a primeira aluna da classe. A mãe, ao final, disse-lhe que precisaria tira-la da escola, porque não tinha condições de arcar com o custo do material escolar. A menina, desesperada, conversou com seus professores e eles passaram a custear o material, para que aquela garotinha tivesse a oportunidade de estudar. E assim os anos se passaram. Ela estudava de manhã, ia com duas blusas para a escola porque, no meio do caminho, tinha que tirar a única blusa do uniforme e dar para a irmã, que estudava à tarde. À noite, a mãe lavava e enxugava o uniforme no ferro de passar roupa. Ao chegar a casa, ia fazer as tarefas escolares e ensinou a mãe analfabeta a ler e a escrever, repetindo para ela os ensinamentos recebidos na escola. Passou muita fome e chegou a comer capim para sobreviver, porque o estomago doía e ela não tinha nenhum alimento em casa. Mudou de casa várias vezes. Aos dez anos de idade começou a trabalhar como doméstica, mas não deixou de estudar. Foi humilhada por ser pobre, porém nunca se deixou abater e continuou sua luta para melhorar de vida. Ajudava a mãe a cuidar dos seus irmãos menores. Aos quatorze anos conseguiu seu primeiro emprego registrado e, por sorte, chegou à secretária do sócio de uma empresa, que era professor de português. Foi só então que ela aprendeu o valor da leitura. Continuou trabalhando e conseguiu progredir profissionalmente. Na adolescência teve muitos amigos, amou profundamente um deles, porém nunca teve esse sentimento correspondido. Terminou o colegial (atual 2.º grau) e sempre foi aluna destacada na escola. Desde cedo lutou muito para retribuir toda a ajuda que recebeu quando criança. Casou, teve três filhos maravilhosos, separou, casou novamente, separou. Ajudou a mãe a ter a sua casa e comprou uma para sua família. Trabalha até hoje, voluntariamente, para ajudar a quem precisa do seu apoio, da sua palavra, do seu carinho. É uma pessoa abençoada por Deus, muito feliz e realizada profissionalmente. Prestou concurso público e passou em terceiro lugar há dezoito anos. Sabe aquele amor da infância, aquele não correspondido? Pois é, trinta anos depois, essa garotinha, hoje uma mulher madura, reencontrou essa pessoa e agora, sob a égide de Deus, estão vivendo um grande amor, que espero, seja para sempre. Este é um conto verdadeiro, porque é, em síntese, a história da minha vida. Aquela garotinha que nasceu há muitos anos atrás ainda existe e está dentro de mim, orgulhosa da família que construiu, dos amigos que possui e das obras sociais que ajuda com seu trabalho.

Magda Simões
Enviado por Magda Simões em 14/09/2010
Código do texto: T2496690