O Terror Tem Nome

Aqueles olhos vermelhos... Era o terrível indicativo que o terror havia chegado, era o sinal mais apavorante. Quando estes olhos vermelhos apareciam, o pânico imperava nesta família, que por um infortúnio do destino eram molestados pelo medo destes olhos quase que diariamente. O dono destes olhos era José, o filho mais velho, de uma família de pai, mãe e mais 2 irmãos mais novos, uma menina de 10 anos e um garoto de 14.

Era uma família pobre, mas honrada. O pai Pedro trabalhava arduamente para trazer o sustento necessário, mas apesar do esforço, não era o suficiente. Maria, a dedicada mãe, tinha que trabalhar também. Mesmo morando num casebre sem condições dignas, ainda assim a soma do que ganhavam os dois era pouco para sustentar os 3 filhos. Apesar das tribulações e dificuldades, sempre viveram felizes na comunidade onde construíram sua moradia.

Essa felicidade perdurou por muito tempo, até que José completou 16 anos. No dia de seu aniversário, alguns amigos o levaram para uma festa. Sua mãe sabia que tinha algo errado, que aqueles amigos não eram boas companhias, mas nada podia fazer, ela e o pai estavam ausentes o dia todo, e por esta ausência acabavam permitindo que José fizesse o que bem entendesse. Depois dessa festa, José nunca mais foi o mesmo, desde então essa família têm sido molestada pelos terríveis olhos vermelhos.

- Que grande mal é esse mulher?! O que fizemos para ter isso na nossa casa?! - O pai lamentava-se da situação.

- Não sei meu velho! Já chamamos o padre, já levamos na igreja. Já demos todo nosso dinheiro do mês para o pastor e ele não tirou esse demônio do nosso filho!

- Mãe, ele está acordando! - A menina mais nova veio correndo, quando percebeu que José estava despertando, dormiam todos no mesmo quarto.

- Calma minha filha, seu irmão vai ficar bem hoje! - Maria tentava acalmar a filha assustada.

José então apareceu na porta, e como temiam, os olhos vermelhos se apoderaram dele novamente. Estava com uma aparência deplorável, cabelo bagunçado e sujo, cheirava mal, pois os olhos vermelhos não permitiam que ele fizesse as coisas normais como se limpar, apenas o maltratavam para que José fizesse o que eles queriam.

- Você está bem meu filho? - Perguntou Pedro.

José olhou para Pedro, que sentiu seus músculos retesarem no mesmo instante. Maria fechou os olhos e começou a proferir algum tipo de oração em voz alta. Tal atitude, fez a atenção de José voltar-se para a mãe.

- Cala boca sua velha louca! - José desferiu um tapa na boca de Maria, fazendo sangrar.

Diante da situação, a pequena garota que estava agarrada com a mãe chorava desesperadamente.

- Cala a boca pivete! - José desta vez atingiu a irmã com um tapa na cabeça, tão forte foi que lançou a garota ao chão. - O que foi velho, vai encarar?! - José ainda ameaçou seu Pai.

- Vai de retro satanás! - Com esses dizeres, Pedro tentou segurar o filho, mas era inútil, sua idade avançada e o pesado trabalho já lhe consumira as forças.

José empurrou o pai contra o velho armário, destruindo o pouco que tinham. Pedro cortou-se com as lascas de madeira e ficou ao chão sangrando.

- Eu te mato velho! - José nocauteou o pobre pai com um chute na cabeça.

- Não!!! - Maria tentou intervir, segurando a cabeça do marido desmaiado.

- Vou dar uma volta! - José virou-se e saiu rua afora.

Maria estava desconsolada, chorava juntamente com a filha menor, segurando o corpo inerte de Pedro. O outro filho estava com uma tia, e não presenciou a cena, no entanto, isso ocorria praticamente todos os dias, e não havia nada que o outro garoto tenha perdido.

Este terrível mal, esse terror de olhos vermelhos havia se espalhado. José não era o único possuído, havia outros na comunidade. E todos temiam quando eles se juntavam, especialmente suas famílias. Assassinatos foram creditados a este bando maléfico, destruição dos próprio lares, roubo do suado dinheiro que seus familiares ganhavam com muito esforço, roubos nos comércios e das pessoas. A situação era tão crítica que alguns pastores incentivavam as pessoas a pintarem o batente de suas portas com sangue de cordeiro, na tentativa de evitar que o destruidor passasse pelos seus lares, assim como fizera Moisés em tempos antigos.

Horas mais tarde, Pedro estava ainda machucado, mas precisava sair para trabalhar, ou não teriam o que comer. O mesmo se deu com Maria, se faltasse ao serviço na casa da madame mais uma vez por causa do filho, seria dispensada. Deixaram Rita, a menina, sozinha em casa, acreditando que José não voltaria tão cedo, como era de costume. Quando saía assim, voltava só no outro dia.

Para desespero de Rita, José estava de volta para continuar seu trabalho maléfico. Entrou em casa com violência, chutou a porta, chutou o que estava na frente. Rita tentou esconder-se debaixo da cama, mas a casa era tão pequena que foi fácil para José encontrá-la.

- Onde esta você irmãzinha? Vamos brincar!

Rita sem controlar o choro, anunciou sua localização. José dirigiu-se diretamente para cama onde estava a menina. Enfiou a mão por baixo da cama e ao sentir os cabelos de Rita segurou-os com força e arrastou-a para fora. Rita esperneava, gritava e chorava desesperadamente.

- Me solta! Me solta! - Rita debatia-se inutilmente, tentava com sua pequena força causar alguma dor em José, que parecia não sentir nem cócegas.

- Hoje você vem comigo!

- Não! Não quero! Por que ta me levando???

- Eles querem uma menina.... Querem uma menina virgem! Vou te entregar!

- Me solta!!!

Rita debatia-se tanto que José pensou que não poderia levá-la para “eles” desta forma. José então mirou seus olhos vermelhos numa pesada panela caída no chão e não teve dúvidas. Com força comedida para não machucar demais a menina, acertou-lhe a cabeça para deixá-la desacordada e assim conseguir carregá-la ao local de encontro.

- Eles querem uma virgem! Minha irmãzinha vai servir muito bem! - José dizia para si mesmo, enquanto seus olhos continuavam ardentes.

José cobriu a menina com um pano e colocou-a no carrinho de catar lixo, em meio aos papelões, latas e garrafas que havia lá. Dirigiu-se ao local de encontro dos olhos vermelhos, onde seus chefes, os donos desses infelizes possuídos se reuniam. Como num ritual macabro, a pobre garotinha fora deflorada, e para seu desconsolo acordara no meio do ato. Antes tivesse continuado desmaiada, antes tivesse morrido com o golpe da panela. Urrava de dor e sofrimento, estava acabada, sua vida, infância, mente, corpo, tudo, tudo estava perdido. Percebeu que os donos dos olhos vermelhos podiam ser piores que os comandados. Um homem, dois homens, três, quatro, cinco homens invadiram a pobre menina, que sem forças para reagir vislumbrava o terrível ato. Após tudo isso, largaram-na ao chão, sangrando intensamente, suas pernas por baixo do vestido estavam lavadas de vermelho. Neste estado, Rita viu porque os olhos vermelhos faziam tudo o que seus donos quisessem, eram eles que alimentavam o mal dentro de seu irmão, outrora um bondoso irmão. José faria o que eles quisessem. Rita arrastou-se para casa, andava cambaleando, o sangue marcava por onde ia passando. José continuou no seu local obscuro, aparentemente, havia esquecido que aquela menina era sua irmã.

Após muito esforço, Rita chegou em casa, onde seu pai e mãe já estavam preocupados com seu paradeiro. Ao ver sua querida filha naquela situação o pai ficou em choque. A mãe em histeria chorava feito uma maluca, levava as mãos a cabeça, puxava os cabelos, pulava de raiva, agachou-se no chão e enquanto chorava mal podia controlar sua boca, sua saliva escorria para fora, babava feito um cachorro, enquanto não cessava com os gritos. Este inenarrável estado desequilibrado de Maria, fez com que Pedro voltasse a si, não sabia se acudia a mulher ou filha, decidiu pela filha.

- O que aconteceu minha filha? - Pedro segurou-a antes que viesse ao chão.

- Pai... pai... - A menina tentou falar algo com a pouca força que tinha. - O José me levou lá... Eles tiraram minha roupa e me machucaram... - Rita mal entendia o que tinham feito com ela, só sabia que a tinham machucado, e muito.

- Calma minha filha... O papai está aqui!

- Pai... Ta doendo muito, ta saindo sangue.... - Com o fraco choro, Rita mostrava suas pernas cobertas de sangue.

Maria jazia deitada no chão, chorando, parecia num transe infindável de sofrimento e dor. Ao ver a duas nesta situação, Pedro também desesperou-se. Abraçou mais fortemente a filha, que já se encontrava desacordada e iniciou seu pranto e lamentação, balançando o corpo pra lá e pra cá, como se isso de alguma forma aliviasse a dor.

Como se não bastasse o sofrimento, José chegou em casa, com os terríveis olhos vermelhos, mais vermelhos do que de costume.

- O que você fez? O que você fez?! - Pedro gritou com José.

- Eu não fiz nada! Essa menina é uma vadia! Igual a mãe!

- Seu desgraçado... desgraçado... - Apesar do sofrimento todo esse tempo, era a primeira vez que Pedro chamava seu filho de algo desse tipo.

- Desgraçado é você seu velho! Levanta mulher, e vai fazer alguma coisa pra comer! - José empurrou Maria com pé, que ainda jazia inconsolável ao chão.

Maria não atendeu José, continuava em choque. Isso deixou-o mais nervoso.

- Levanta mulher inútil! - José chutou a barriga da mãe, que gritou alto.

- Pára com isso seu desgraçado, maldito! - Pedro deixou a filha avançou sobre José, impedindo-o de desferir um novo golpe contra Maria.

Os dois se atracaram, destruindo tudo o que havia na casa. Pedro machucava-se a cada segundo de luta. Diversos ferimentos já haviam se aberto em seu corpo, mal conseguia ver ou entender o que se passava a sua volta. Na inútil tentativa de defender a esposa e filha, estava ele agora precisando de ajuda, e parece que de súbito suas preces foram atendidas. De repente, José parou com sua violência, expelindo um grito de dor, e segundos depois tombou ao chão. Pedro então viu, seu filho caído com uma faca encravada nas costas, e a julgar pela área da perfuração, atingiu diretamente o coração. Atrás dele estava Rita, a pobre menina, que reuniu suas últimas forças para salvar o pai, e com a pouca coragem que lhe restava fez o que ninguém foi capaz de fazer antes.

- Acabou pai.... acabou.... - Rita foi novamente ao chão, não se agüentava de pé.

- Minha filha! Minha filha! - Pedro, movendo seu corpo machucado, abraçou a filha, num misto de alívio e desespero por ver um filho morto e uma filha quase morta e deflorada brutalmente.

- Acabou pai... Os olhos vermelhos não vão mais voltar, estamos livres, não estamos?

- Sim, minha filha.... Estamos livres.... Este mal não vai mais nos perturbar.

O terror terminara, os olhos vermelhos estavam terminados, a custa de sangue e horror. Não há coisa mais assombrosa do que ser aterrorizado por estes olhos vermelhos. Este mal tem um nome, essa família conhecia muito bem seu nome, tinha aversão a ele. Sim, o terror tem nome e chama-se CRACK.

LeoLopes
Enviado por LeoLopes em 09/09/2010
Reeditado em 23/12/2010
Código do texto: T2488456
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