O IPÊ AMARELO

Uma leve brisa balança os galhos daquele imenso ipê amarelo, derrubando uma e outra flor ao chão. Da porta de minha casa fico a observar esse espetáculo que me alegra e me encanta. Penso que essa é a arvore mais bela, entre todas, e está bem aqui, diante dos meus olhos.

Ao lado de meu pai e de um enorme saco de laranjas, eu e meus irmãos ficávamos sentados por horas, sob a sombra do ipê.

- Pai, descasca pra mim?

- Eu também quero! De chupar, tá pai?

- Tá bom! Vou descascar pra todo mundo!

E meu pai descascava laranjas pra todos, e nós saboreávamos, sugávamos aquele suco até não restar mais nada, nem uma gota sequer.

Enquanto chupávamos laranjas, falávamos sobre nossas aventuras e o pai contava histórias de seu passado ou do seu presente. Aproveitávamos também para tirar algumas dúvidas:

- Pai, girino é peixe?

- Pai, cobra coral é venenosa?

Sentíamos que aquele era um momento especial, que aquelas eram as laranjas mais gostosas do mundo!

As horas passavam depressa. Começava a escurecer.

- Pai, conta uma estória de assombração?

Então ele começava:

- Conta-se que, em noites muito escuras, quando andamos por essas estradas, aparece uma luz, que fica nos seguindo. Se a gente vira, ela vira, se a gente corre, ela acelera, se vamos de ré, ela anda pra trás... e, que o único jeito de se ver livre dela é a gente fingir que ela não esta lá, que ela não existe e assim ela desaparecerá. Muitos já passaram por esse aperto aí nas redondezas!

Enquanto meu pai ia contando, eu ficava pensando que não seria nada agradável andar sozinho por essas bandas. Imaginava a cena e me dava um medo danado.

Meu pai terminava a estória e ia logo dizendo que tava na hora de ir para a cama.

– Ok, ok, é hora de ir dormir!

Levantávamos sem pressa, felizes, com um certo medo do escuro, mas com a ingênua confiança de que a vida era maravilhosa e sempre seria.

- Vão se lavar antes de deitar!

- Tá bom pai!

Publicado em: Contos - Imitação da Vida - CBJE - 2010