Pecado Azedo

24/09/09

Pecado Azedo

Alícula desde criança já mostrava que veio ao mundo para servir ao seu semelhante. Todos que a conheciam pensavam assim. Ela era boa, caridosa. Solidária e amiga. Estava sempre pronta para ajudar a quem quer que fosse.

Apesar de toda essa bondade caridosa, escondia um pequeno segredo.

Diariamente, ia ao portão de sua casa para espionar os movimentos do vizinho.

Não, não era para namorá-lo, pois nem tampouco o conhecia. Não sabia de sua aparência, nem do seu jeito, nem o quê fazia da vida, mas no que ele tinha para lhe dar. Aparentemente, interesseira, não?

Só sabia que ele tinha um pé de tamarindo. A árvore dava belíssimos frutos e ainda por cima apetitosos. Apesar de a fruta ser bem azeda, Alícula adorava tamarindos.

Mas sua timidez a impedia de pedir um tamarindo para saborear.

Assim o desejo só aumentava, ficando sua boca e seu beijo com cheiro de tamarindo. Até seu corpo cheirava a este aroma.

As pessoas que a cumprimentavam sentiam o perfume de tamarineiro e logo queriam comprá-lo, mas ela desconhecia a existência dessa fragrância e nem tampouco a causa desse cheiro, dizia ela.

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Na verdade, ela sabia a causa, mas tinha medo de revelar, por causa dos possíveis comentários maldosos.

Assim que via a famosa casa deserta, ela corria para lá, comia todas as tamarinas do chão, deixando-o limpo e organizado, como só ela sabia fazer.

O dono da residência, quando chegava, ficava feliz e nem se importava com o assalto às suas frutas, porque ficava tudo tão limpo que nem precisava chamar o jardineiro.

Mas a marca de seu sapato estava lá, para mostrar que uma criança gulosa tinha passado por ali.

Assim se repetiam inúmeras vezes as horas desertas.

Hoje em dia, ela tem dinheiro e pode comprar a famosa tamarina, mas o sabor não mais proibido, não a atraía. Agora era fácil demais.

Aliás, de nenhuma fruta ácida ela gosta de experimentar.

Por esse ou por outro pecado, ela gosta de se confessar na Semana Santa para ir ao céu, perdoada de seu erro passado: o de furtar frutas alheias.

Mesmo não sendo liberada pelos médicos, pelo seu estado de saúde, ela desacata qualquer pessoa,movendo céus e terra, com saúde ou não, vai à Igreja para suas orações, acreditando desta forma, interceder por todos que precisam.

Adriana Quezado

XXXI Concurso Internacional Literário

Classificada 8° lugar

AQAZULAY ADRIANAQ
Enviado por AQAZULAY ADRIANAQ em 08/09/2010
Reeditado em 13/04/2014
Código do texto: T2485179
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