O LADRÃO
O Ladrão
Uma pequena multidão se ajuntava em frente a casa da viúva Judith. Deitado na calçada, o ladrão sofria com os chutes, as cusparadas, os palavrões que lhe eram dirigidos, e os olhores alheios o transformavam em um vilão de mais alto escalão. De repente, chegou o Zé Grandão, enorme em seu ego machista, com sua arma poderosa, um fuzil que usou para amedrontar ainda mais o pobre ladrão. Ele trazia um par de algemas, que passou nos pulsos do homem. Enquanto a multidão assistia, pacífica, doida para linchar o coitado. O Zé Grandão rapidamente com a ajuda de dois comparsas, jogou o infeliz dentro da mala de seu carro e sumiu com ele, dizendo que iria levá-lo para a delegacia, pois era um policial.
Aos poucos só se escutava um comentário aqui e ali, e todos se afastaram. A versão da viúva Judith assustou mais outras três viúvas da rua, pois ele tinha pulado o muro de sua casa e entrado pelos fundos. Abriu a porta dos fundos, e chegou até o seu quarto, depois de rendê-la, a pobre viúva teve que se submeter a todos os gostos sexuais do ladrão, até que ele satisfeito, pegou no sono, e ela depois de conseguir se desamarrar, sabe lá como, saiu para procurar a ajuda do Zé Grandão.
Jamais vou me esquecer o olhar do pobre ladrão, suplicava justiça, e havia no fundo de sua súplica, uma surpresa triste, uma miséria descontrolada, o medo de saber que iria ser eliminado. Não ouvi nenhum comentário sobre o ocorrido naquela rua. Os fatos são enterrados na correria de nossas rotinas. Por uma coincidência do destino, tempos depois fiquei sabendo a boca pequena, que o ladrão, na verdade era um amante insatisfeito da viúva Judith, que não querendo mais encontra-lo na clandestinidade dos motéis, havia reagido ao seu assalto com uma ameaça. Entregando-o ao Zé Grandão, sem atinar, conforme suas desculpas, com o destino que lhe seria dado. Ele foi friamente assassinado e jogado em uma estradinha perto de um lixão.
Alguns meses depois, ela mudou-se para um balneário catarinense, talvez fugindo de outro ladrão.