A VIRA LATA
Desci daquele brinquedo completamente atordoado, com náusea e suando frio. Havia ido ao parque para espairecer, mas na tentativa de recordar as diversões de criança, fui levado a crer que poderia encarar o desafio de me aventurar naquela montanha russa colossal.
Já, seguro em solo, recuperado da vertigem, fui até a uma barraca, pedi uma lata de cerveja e me encostei ao cercado de outro brinquedo. E lá estava eu a meditar novamente acerca das pilhas de processos que pareciam não estar no escritório e sim em cima da minha cabeça. Nesse instante passou por mim um homem correndo e pulando com uma criança montada em suas costas, ambos gargalhando com seus sorrisos largos. Essa cena fez com que eu me lembrasse do meu filho. Há seis meses eu não o via. Isso me deixou mais angustiado ainda. De imediato abri a lata de cerveja e a tomei numa golada só, no intuito de afogar todos aqueles tristes pensamentos. Fiquei certo tempo com o pescoço virado para cima até que a última gota de cerveja fosse definitivamente expelida da lata.
Ao retornar o pescoço na posição normal, me deparei com uma senhora que aparentava ter uns sessenta anos de idade e que estava totalmente maltrapilha. Suas pernas, abaixo dos seus joelhos estavam bem inchadas e com algumas escoriações, ela carregava um saco repleto de latinhas amassadas. Ela se abaixou com extrema dificuldade e apanhou uma lata de cerveja que havia sido jogada há pouco tempo por uma jovem que aparentava não gostar muito de cerveja. Ao notar que havia restado uma boa quantidade no interior da lata, não a jogou em seu saco, ficou ali segurando aquela lata tão maltrapilha quanto ela e com cara de quem havia recebido uma dádiva. De repente ela me olhou profundamente nos olhos, abriu um sorriso afortunado e me sinalizou um brinde.
Foi quando me derramei em lágrimas.