LONGE É UM LUGAR QUE EXISTE

Naquele instante ela sentiu um nó na garganta. Não conseguia entender o porquê, a causa daquele desconforto inesperado. Sentia repugnância. Algo estava travado em sua garganta. A sensação só piorara após aquelas duas taças de vinho do jantar. A sensação nauseante persistia e com maior intensidade que antes. Morreria asfixiada caso não acabasse logo aquele jantar. Pediu licença, retirou-se da mesa, foi até o jardim, respirou profundamente o ar da noite. Retornou em seguida para a mesa onde estavam alguns colegas de trabalho de seu marido e suas respectivas esposas. Era meados de dezembro.

Enfim, acabou o jantar. Todos se despediram e se retiraram. Carinhosamente falou ao marido que aquele dia gostaria de ir caminhando, considerando que a casa deles estava a poucas quadras dali. O marido concordou e dirigiu mais devagar do que de costume até a residência deles. Sua esposa seguiu atrás, sem pressa de chegar.

Era maravilhoso sentir a brisa tocar sua pele e revolver levemente seus cabelos. Ela aspirava o ar com tanto prazer que parecia sentir cada molécula de oxigênio que inalava. Era como se saboreasse uma iguaria. Foi um santo remédio! Ela amava a natureza e em pouco tempo sentiu-se melhor.

Absorta em seus pensamentos ela continuou, calmamente, sua caminhada até os jardins de sua casa. Entrou portão adentro e sentiu o cheiro das flores. A porta da casa estava aberta, ela entrou, e a primeira coisa que seu olhar encontrou foi uma foto de seus pais e irmãos sobre a estante da sala. Neste exato momento ela se deu conta de que tudo aquilo não passava de saudades da família. Daria tudo para estar com eles naquele dia. Não seria possível. Estavam longe de sua terra, em outro país. O marido estava de serviço, não poderiam se ausentar naquele momento. Ver-se-iam em breve, em fins de janeiro.

Mas, a saudade não marca dia, nem hora e nem lugar!