Banal
Acordou, relutante a levantar da cama. Nem era sono, dormira bem todas as hora necessárias para recarregar as baterias, era preguiça mesmo. O café da manhã preparado por sua mãe continuava delicioso. Seguiu pro chuveiro. E depois pra sua dúvida matinal acerca do que vestir. Apesar do tempo que passou pensando e recombinando, escolheu o trivial: jeans e camiseta. 'Um acessório colorido talvez, pra animar', pensou. E comumente atrazada, partiu. 'Espero que esse ônibus não demore muito' pensava, enquanto terminava de arrumar sua bolsa e já planejava mentalmente o que faria daquele dia. Os ônibus naquele horário vão cheios, e o caminho até o destino daquela manhã seria longo. 'Sorte, sentei'. Pegou o livro que atualmente tem sido sua constante companhia e pos-se a ler. Lia e não estava mais naquele lugar cheio de pessoas. Estava já perdida em seus pensamentos, lembranças e assunções. O veículo movia-se lentamente, tamanho é o transito em Olinda nas manhãs. Cidade bela de atrativos naturais e patrimônios históricos. Fácil de chegar, complicada de sair. Ela lia, refletia. Olhava as pessoas em volta, os casebres antigos ora coloridos e vibrantes, ora manchados, desbotados...cochilou. Deixou-se levar pelo balanço, visão, pensamento e cedeu. É certo que por vezes abria os olhos procurando saber se o destino se aproximara. E novamente voltava a fechar os olhos. Dando-se conta de que ali não era o melhor lugar para tal feito - o que se percebeu facilmente depois de uma incomoda dor nas costas - resolveu manter-se acordada e a continuar olhando a cidade, as pessoas na rua, lá dentro. O ônibus começava a esvaziar e de repente subiu uma pessoa que ela poderia prever, estava ali pra pedir. Não se enganou. Terríveis esses pré-conceitos, mas na verdade não via como fugir. A pessoa se apresentou a todos, fez seu lamento e indicou o porque de ser merecedor de nossa misericórdia. Não coube julgar os motivos pelos quais aquela pessoa estava a fazer aquilo diante de varias pessoas desconhecidas. Mas o fato é que muitas pessoas parecem se acostumar a ser sofredoras e a depender da caridade alheia. 'Minha nossa, mas ninguém entende que aquilo além de necessidade, já passara a ser um ato automático para aquele ser?', dizia a si mesma inquieta. O que aquela pessoa precisava de fato? O que se pode fazer por ela? O que ela poderia fazer por ela mesma? Tantas indagações...De repente ouvia barulho das moedas sendo jogadas pra dentro do chapéu seguidos do já sem sentido 'Muito obrigado, Deus abençoe'. 'A palavra dita repetidas vezes perde o sentido', ela ouvia aquilo e pensava. E desceu a pessoa com o chapéu carregado de moedas. 'Talvez use pra comer, pra se medicar, ou até mesmo para se alcoolizar'. Mas sem dúvidas, aquele passara a ser seu ofício. Trazia resultado e resolvia a curto prazo as necessidades gritantes naquele ser. Tentou questionar, levantar possibilidades, desistiu por hora. Olhou o relógio e percebeu que, embora atrazada, estava quase chegando na metade de seu destino, centro de Recife. Lugar de prédios cinzentos, pontes e pessoas andando desavisadas.